Numa “vida passada”, eu achava que não era um homem machista. Mas precisei viver uma experiência transformadora para perceber que eu pisava muito na bola. Hoje defendo a equidade de gênero e a igualdade de oportunidades com unhas e dentes. Quero entregar um mundo com mais respeito e justiça para minha filha. Mas confesso que travo uma briga todos os dias com o pequeno machista que ainda habita dentro de mim.
Todos nós crescemos numa sociedade que promoveu o conceito, ainda que não explicitamente, de que os homens são superiores às mulheres. Uma boa parte dos homens já compreendeu que as reivindicações femininas são justas. Entretanto, por mais modernos que sejamos, sofremos as consequências de uma educação paternalista e de crescer num ambiente cultural dominado pelos homens – e isso está sempre nos pregando armadilhas.
O pior é que muitas vezes não percebemos esse machismo. Costumo dizer que precisei virar dono de casa por um tempo (e ser pai de uma menina) para ver coisas que estavam à frente do meu nariz e que eu simplesmente não conseguia enxergar. Eu me considerava um cara muito legal, mas achava natural a mulher ser responsável por cuidar da casa e dos filhos – mesmo que ela também trabalhasse fora. Também pensava que era um chefe bacana, mas nunca promovi uma mulher. Já ouviu falar em vieses inconscientes? Eu era um “viés inconsciente ambulante”.
O primeiro passo para a mudança é conseguir enxergar a realidade. Quando assumi as tarefas domésticas e o cuidado da minha filha aprendi muita coisa. Mas foi preciso ir além. Por isso, tomei a liberdade de listar aqui alguns comportamentos que ainda são considerados “normais” por muitos de nós. Vale a pena prestar atenção e refletir sobre eles. Talvez não sejamos machistas com “M” maiúsculo, mas certamente podemos rever nossos conceitos e dar um passinho adiante.
Vamos lá:
– Quando um amigo fica cuidando dos filhos, eu sempre brinco: “Hoje te deixaram de babá”.
– Eu dou “uma mãozinha” nas tarefas da casa, mas quem coloca a mão na massa mesmo é a minha mulher.
– Nunca fiz um rabo de cavalo na minha filha.
– Quem leva meus filhos ao médico – ou na reunião da escola – é minha mulher. Eu os levo no futebol.
– Acho normal perguntar a uma mulher quando ela terá filhos. Mas nunca faço essa pergunta a um homem.
– Eu sempre pago a conta do restaurante.
– Chamo a atenção da minha filha quando fala palavrão. Se isso acontece com meu filho, não me importo.
– Acho normal descrever uma mulher que não se arruma tanto como “pouco feminina” ou descrever uma mulher como “provocante”, quando ela usa uma roupa mais ousada.
– Acredito que algumas mulheres são “mais fortes” ou “mais corajosas” do que as outras. Mas nunca falei isso sobre um homem.
– Meu filho volta da balada a hora que bem entender. Minha filha tem horário para chegar em casa.
– Não vejo necessidade de instalação de trocadores de bebês no banheiro masculino.
– Ao chamar uma mulher no trabalho de “linda” ou “querida”, mesmo sem ter qualquer intimidade com ela, só estou querendo ser gentil.
– Acho normal que na sala de espera do ginecologista só tenha revistas femininas ou sobre celebridades.
– Na rua, nunca interfero quando vejo um homem tratando uma mulher com desrespeito ou agindo inconvenientemente.
– Incentivo meu filho a ser “pegador”. Não falo sobre sentimentos com ele. Já a minha filha deve ser comportada.
– Não repreendo um comentário machista feito por um amigo, mesmo sem concordar com ele.
– Costumo julgar uma mãe pela maneira como educa seu filho, mas nunca faço esse questionamento sobre um pai.
– Acho normal chamar a atenção da minha mulher por estar saindo com uma saia muito curta ou um decote mais ousado.
– Na minha casa, ainda existem brincadeiras ou tarefas de “menina” e de “menino”.
– Concordo que as mulheres tem direito às mesmas oportunidades que os homens, mas essa é uma briga exclusivamente feminina. Não tenho nada a ver com isso.
* Imagem da capa retirada do artigo.