Dete acabou de ter seu primeiro filho e ser atropelada pelo maior amor do mundo!
Poderia passar o dia olhando para aquele serzinho puro e indefeso, como se estivesse na frente de uma lareira. Ele ainda só faz três coisas: mama, enche as fraldas e dorme. Para essas coisas, um tanto quanto simples, acontecerem, a Dete dedica cada minuto do seu dia. Além disso, é seu filho quem decide, como e quando as tarefas mais essenciais da sua vida acontecem. Ela alimenta-se para produzir um leite bom; pra ele. Dorme em doses homeopáticas; como ele. Até as suas idas ao banheiro são, muitas vezes, acompanhadas. Dele.
Dá pra entender o que isso significa?
Mesmo assim, Dete sente-se feliz. Seu momento favorito do dia é amamentar. Ela não sabe muita coisa sobre isso, mas tem uma forte intuição de que está construindo uma relação baseada em muito amor e confiança. Ela compreendeu tudo isso observando atentamente seu filhote e aprendeu, em pouco tempo, que seu leite acalmava, saciava e o satisfazia. Dete quase não consegue acreditar que aquele pequeno milagre esteja crescendo com a ajuda do seu leite. Pura e exclusivamente.
O que ninguém sabe, é que, muitas vezes, ela se sente como o Atlas, aquele Deus grego que carrega o mundo nas costas. É esta a imagem que lhe vem à cabeça quando ela, que mal acabou de pegar no sono, é chamada por um chorinho novamente.
Se ao menos as pessoas a olhassem com mais empatia, conseguiriam perceber como ela se sente e tirar-lhe um pouco daquele peso que ela não precisa carregar, como: a culpa por não querer ir naquela festa de aniversário, não se sentir tão bela para tirar tantas fotos, o cansaço de as vezes não querer conversar e só ver uma novela. Ela tem que lidar com olhares incomodados de pessoas que se ofendem quando ela amamenta em público, com a cobrança de amigos e familiares quando ela prefere dormir e com sua própria autoestima, abalada por achar que deveria dar conta de tudo sozinha.
Dete pode contar com seu companheiro, que sabe que é na segunda gaveta da cozinha que Dete guarda sua barra de chocolate favorita. Quando ele olha pra ela e percebe que seu nível de energia está chegando ao fim, leva-lhe um pedacinho da doçura, dá-lhe um abraço carinhoso e fica lá, até que a vitoriosa Mãe de Leite adormeça em seus bracos.