Continuando a conversa sobre a campanha da ONU “Bote na Mesa”, que fala sobre equidade de gênero. Esse é um convite para que todas as pessoas participem e, não só comecem a pensar sobre o tema, mas também entender como podem – devem – se engajar nele.
Quando olhamos as relações humanas – do ponto de vista teórico – é muito simples dizer que todos têm o mesmo direito e devem ser tratados de forma igualitária. Então, por que na prática é tão difícil?
Sei que para muitos é difícil aceitar que nossa sociedade foi construída numa lógica masculina, branca e heteronormativa. Isso faz com que quebrar estereótipos, vieses e preconceitos seja um grande desafio. No entanto, não há mais escolhas muito menos desculpas. O mínimo que as mulheres estão pedindo é respeito.
Mas a mulher é mais delicada, não consegue se impor.
Mas a mulher tem filho e sai de licença maternidade.
Mas a mulher tem obrigações em casa que limita sua dedicação no trabalho.
Mas...
Mas isso são preconceitos seus.
Primeiro porque, apesar da delicadeza e senso de cuidado ser uma característica feminina, não é exclusiva das mulheres e nem todas as mulheres têm essas características acentuadas. Segundo, ainda bem que podemos contar com perfis diversos que trarão diferentes competências e olhares para as atividades a serem realizadas. Depois, temos novos formatos de família há muitos anos que – ainda bem – já estão cobertas e amparadas pela lei para licença parentalidade. Sim, licença do casal, seja ele composto da maneira que for porque estamos falando de dois seres humanos que querem ter uma família e cuidar de uma criança. E uma notícia chocante: nem precisa ser filho biológico!
Por fim, a mulher acaba tendo essas obrigações adicionais em casa porque muitas vezes não tem um(a) companheiro(a) para dividir as tarefas ou ele(a), com muita sorte, atua apenas como ajudante e não como corresponsável nessas tarefas domésticas.
Assim, é obrigação de todos nós olhar as disparidades de oportunidades e responsabilidades das mulheres e dos homens e ajustá-las. E a pergunta que fica é: o que eu posso fazer no meu dia-a-dia para diminuir essa desigualdade?
Dentro do meu ambiente de trabalho:
- Dou oportunidade de desenvolvimento de carreira para mulheres?
- Os salários para as mesmas funções são equiparados entre os gêneros?
- Como me relaciono com as mulheres com as quais eu trabalho? – piadas, comentários, interrupções...
Dentro do meu convívio:
- As tarefas domésticas são divididas igualmente?
- Como trato as mulheres com as quais me relaciono?
- Recrimino comportamentos e comentários machistas no meu círculo?
- Dou suporte a mulheres vítimas de violência ou situações / relações abusivas?
Essa não é uma reflexão de uma mulher para os homens, é uma reflexão também para nós, mulheres. Mulheres que querem e DEVEM ser tratadas com respeito e profissionalismo, com as nossas competências e habilidades. Como hoje, se enxerga a um homem.
*Ilustração da capa: Nadezda Grapes