Se tem uma coisa que aprendi estudando, questionando (meus próprios modelos mentais, na maioria das vezes) e promovendo a diversidade nos últimos anos, é que ela gera, num primeiro momento e ciclicamente, desconfortos. Vou explicar.
Todas as pessoas possuem um código único e implagiável composto por suas aparências, crenças, capacidades, desejos, histórias, hábitos, sonhos e escolhas. É por sermos diversos que evoluímos e conseguimos sobreviver como espécie, como pudemos ver na pandemia do COVID-19.
Se chamarmos esta pluralidade de "diversidade cultural", ela recebe até atributos bastante positivos e se torna um bem desejável, pois desperta nossa curiosidade, nos oferece a possibilidade de aprender, crescer, inovar e fazer novas escolhas. Até aqui, tudo bem. Estamos na posição de controlar e decidir, se queremos ou não consumir esta diversidade.
O desafio começa quando nos damos conta de que vivemos em um planeta que nos oferece recursos em abundância, mas distribuídos de forma irregular. Isso faz com que se inicie um movimento em defesa daquilo que não nos pode faltar. É neste momento que as pessoas se reúnem com seus semelhantes, na tentativa de ganhar força para se proteger daquilo que é desconhecido, representa risco e pode lhes tirar o que lhes é necessário. Em outras palavras, formam-se grupos sociais fechados e avessos à diversidade. Nasce, portanto, a ideia do “nós” versus o “outro”, aquela que separa, reprime, rebaixa, isola, oprime e sobretudo, não dialoga, na luta pela poder e manutenção do status quo.
São estas sociedades fechadas que se consideram conservadoras, tradicionalistas e defendem seus valores como a única referência possível para a sua existência. Elas são regidas pelo pavor da escassez e agarram-se à sua identidade e regras como verdades absolutas. Qualquer coisa que possa gerar instabilidade nessa estrutura é combatida.
Seguindo esta linha de raciocínio, conseguimos entender porquê em grupos mais homogêneos os conflitos aparentam ser menos frequentes e a percepção é a de que a harmonia prevalece. Ah, a aquela paz desejada, que maravilha! "Estamos entre nós e nos entendemos até em silêncio". Mas...e o crescimento pessoal, o aprendizado, a inovação, a segurança da preservação da espécie e a evolução humana?
Pois bem, esta só acontece quando temos coragem de abrir espaços verdadeiros para os diferentes, quando entendemos que a pluralidade integrada exige aproximação, abertura, escuta e sabedoria. Este processo é contínuo, demanda disposição, empatia e liderança pra que ele não se torne uma colisão traumática e forçada.
Acesso a recursos é um direito universal de qualquer ser humano. Equidade é cada um ter os recursos de acordo com suas necessidades, nem mais, nem menos. Os movimentos em busca deste direito sempre existirão.
Para vivermos, então, em real harmonia, temos que entender que o conflito, ou seja, o encontro de diferentes necessidades e perspectivas, vai acontecer e que saberemos lidar com ele. Pois é na divergência de pontos de vista e necessidades que expandimos nosso conhecimento.
Nessa linha de raciocínio, concluo que, se há conflitos, por mais desconfortáveis que possam parecer, há oportunidades, já que a diversidade está exatamente ali, buscando espaço de existência e nos dando a chance de encontrar soluções para todas as partes.