Eu faço terapia em grupo. Acho verdadeiramente que todo mundo deveria ter essa experiência na vida. É muito diferente de terapia individual, com ganhos muito particulares. Desde que o COVID-19 começou a nos convidar a fazer quarentena, fiquei imaginando qual seria o futuro dos nossos encontros. Resolvemos dar chance para o virtual e nos conectamos no mesmo dia e horário das sessões. Confesso que estava num misto de quero / não quero. Queria porque sentia a necessidade de desabafar. Não queria porque me cansava imaginar que nossa conversa ficasse girando em torno de notícias e previsões catastróficas, como já acontece nos meus grupo de whatsapp. O que aconteceu não foi nem uma coisa nem outra. Não fiquei falando e falando sem parar, tão pouco nos ocupamos de ficar comentando sobre as notícias que chegavam até nós. Ter feito a sessão em grupo foi a melhor coisa que fiz por mim nessa semana e me fez refletir sobre o que escrevo a seguir.
Passar por esse período de quarentena não será fácil. Ela nos força a viver de uma forma que não estamos acostumados por um período maior do que gostaríamos. Cuidar da saúde mental será fundamental para que essas próximas semanas sejam menos difíceis. E como fazer isso? Como cuidar para que a cabeça não espane? Um caminho possível é a vulnerabilidade, mais especificamente a aceitação desse estado em você e no outro. Se aceitarmos esse lugar de incertezas será mais fácil nos conectarmos uns com os outros e assim conseguiremos nos manter mais saudáveis.
Sem vulnerabilidade, só nos resta ficar falando e trocando mensagens sobre os fatos, as notícias, os números, as coisas. Em resumo, sobre tudo que está fora. Acolher essa posição é a saída para que possamos falar de nós, dos nossos medos, angústias e pensamentos. Com quem você já conversou sobre essas coisas desde que a pandemia se instalou? Com quem você pode abrir o coração e falar sem medo de receber julgamentos?
Na minha sessão de terapia, mais do que falar, eu ouvie isso me permitiu conhecer os fantasmas que habitam meus colegas de grupo, o que me ajudou e perceber coisas que estavam inconscientes dentro de mim e me despertou um sentimento de coletividade que andava meio apagado nos últimos dias. Saí da sessão me sentindo mais leve e capaz de atravessar esse período e sair vivo do outro lado. E isso só foi possível porque falamos de nós e fomos acolhidos uns pelos outros sem julgamentos. Acho que se conseguirmos criar esses espaços de escuta e vulnerabilidade a quarentena não será tão difícil assim.
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*arte da capa de Untitled Army