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Opinião ——

Acessibilidade Digital

Camila Locks

22 de março de 2021

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A acessibilidade é algo que vem sendo implantado ano a ano, no mundo inteiro. Ela é prevista em Leis. No Brasil, está na Constituição Federal que as cidades devem ser repensadas para serem acessíveis. Segundo dados da ONU (2011), mais de 1 bilhão de pessoas no mundo são portadoras de algum tipo de deficiência. No Brasil, de acordo com os dados mais recentes do IBGE, cerca de 25% da população possui algum tipo de deficiência, o que levou ao surgimento de leis que obrigam que os espaços sejam mais acessíveis, seja físico ou virtualmente. 

De fato isso vem acontecendo mas, muitas vezes, as novas estruturas não são eficientes, duráveis e, consequentemente, sustentáveis. Outro dia, me deparei com uma faixa para cadeirante recém feita. Ela estava numa ladeira. Era uma camada de cimento, sobre uma rua de paralelepípedo, seu fim era numa rua de bloquetes soltos, e todas as ruas que continuavam nessa encruzilhada eram paralelepípedos. 

A acessibilidade realmente eficiente não é uma tarefa fácil para grande maioria das cidades que não foram projetadas na sua origem para serem acessíveis, e  sofrem com recursos financeiros e humanos para recriar essas estruturas. O mesmo acontece com os espaços virtuais. 

Para muitas pessoas, portadoras de alguma deficiência, a internet torna as coisas possíveis. Eu me deparei com a informação da lei Nº 13.146, de 6 de julho de  2015, em um evento do Google (2017), sobre este tema. Essa Lei ainda é pouco divulgada, tanto que conversei com vários profissionais da área de comunicação que desconhecem a informação. Em 2017, eu estava iniciando a pesquisa para tornar o site do meu cliente acessível (carlotas.org), e toda a comunicação da sua empresa. Nesse evento foram apresentados cases de grandes marcas, principalmente e-commerces, que observaram que a falta de acessibilidade estava prejudicando os negócios, pois exclui uma parcela significativa de consumidores. 

"O poder da web está em sua universalidade. Acesso para todos, independente de deficiência, é um aspecto essencial." Tim Berners-Lee

Seja um site, uma plataforma digital, eles precisam ter usabilidade, ou seja, fácil navegação.

A informação precisa ser encontrável, compatível com diferentes dispositivos, compatível com pessoas com diferentes tipos de deficiência visual - que podem ser pessoas com baixa visão, até pessoas com idade avançada - pessoas com deficiência auditiva, motora, ou transtornos de aprendizado, como a dislexia, que possui fontes e padrões que favorecem a leitura.

Mas para executar isso, não só recursos financeiros são empecilhos, como humanos, que vão desde profissionais que acreditam na importância da acessibilidade, até profissionais capacitados, que conhecem as tecnologias. 

A diversidade e a inclusão são fatores que começaram a ser vistos com mais atenção a partir da segunda década deste século, e que ganharam mais força no último ano dela, ou seja, ano passado, 2020, com a pandemia, onde o mundo virou remoto. 

A lei prevê que os sites sejam adaptados para que todas as pessoas possam ter acesso a informações. Empresas como Magalu e Natura são referências em acessibilidade. Essas empresas olharam para essa causa quando perceberam a perda significativa de uma parcela dos consumidores em potencial. São sites que inspiram, que possuem os melhores apps disponíveis no mercado nacional, mas ainda assim não são 100% acessíveis e/ou possuem alguns erros de acessibilidade. O mesmo ocorre com as cidades, não existe uma que seja 100% acessível. 

Mas se empresas grandes ainda encontram dificuldades, imagine a realidade de empresas menores, que apenas desejam tornar seus conteúdos acessíveis e seguir o que diz na lei de acesso à informação. 

São poucas as empresas que detém essas tecnologias no mundo. Apesar do Brasil ser um dos maiores usuários de internet, a nossa realidade não é das melhores. Muitas das empresas que comercializam as tecnologias têm preconceitos com empresas menores, pois não tem opções que atendam a todos. 

Durante o processo de busca de tecnologias acessíveis, para o desenvolvimento do site Carlotas, nos deparamos com uma empresa que detém uma tecnologia muito específica, que é referência. Levamos meses para sermos atendidas e não conseguimos nenhum tipo de orçamento formal. Depois de uma primeira reunião, que nos levaram a crer que haviam alternativas para nós, ouvimos que só para uma avaliação gastaríamos X e que não valeria a pena para nós. Conclusão que eles tiraram sozinhos, sem nunca consultar o budget que realmente estávamos dispostos a investir. O valor real da ferramenta não tivemos acesso em momento algum. 

Números favorecem a desumanização, porque quando profissionais aliam valores versus porcentagem de pessoas portadoras de uma deficiência e uma necessidade mais específica, induz muitas organizações a desistirem. 

#PraCegoVer

Durante a pesquisa para este texto encontrei o dado que em 2018, um grupo de usuários da Apple, portadores de deficiência visual, estavam processando a empresa por não respeitar as regras da ADA (Americans with Disabilities Act, lei americana) no seu site. Outras plataformas importantes como Facebook, Instagram e Linkedin também possuem diversas limitações. 

A deficiência visual é a deficiência com maior incidência, pois o envelhecimento leva a perda da visão, mas plataformas são muito falhas nessa acessibilidade. As 3 mencionadas acima possuem campos para legenda alternativa, porém o Facebook e o Linkedin permitem em média uma descrição de 100 caracteres, o que muitas vezes não permite descrever toda a cena de uma imagem ou a informação de texto presente na imagem. Segundo uma pesquisa feita em Carlotas, para parte desse público uma legenda genérica da imagem é o suficiente, mas outra parcela espera que a descrição seja rica em detalhes. Sempre que possível opto por riqueza de detalhes, para que realmente seja possível imaginar a imagem abordada. O Instagram é melhor nesse recurso, porém, por ser uma mídia social muito visual, não desperta tanto interesse de pessoas com baixa visão, por exemplo. O TikTok não considera esse público atraente, seus algoritmos são programados para não mostrar pessoas portadoras de deficiências por considerar o diferente feio, e o Club House, última grande sensação a ser lançada, no momento exclui pessoas portadores de deficiência auditiva.

Como solução para a limitação de caracteres na legenda alternativa, presente em algumas mídias, é inserir a hashtag #PraCegoVer, que é a mais aceita por esse público, popularmente conhecida desde a primeira década deste século. Porém, o texto será caracterizado como “textão” pelos algoritmos e consequentemente o conteúdo não será entregue da mesma forma. Ou seja, às vezes, a acessibilidade digital mais parece a ladeira descrita no primeiro exemplo. 

A diferença entre uma cidade e uma plataforma/site digital, é que teoricamente é mais simples mexer numa tecnologia do que na estrutura de toda uma cidade. O Google favorece sites acessíveis no buscador, assim como desde o início da década passada favorece sites responsivos, e, até pouco tempo atrás, grandes empresas não tinham atualizados seus sites para serem facilmente acessados através de um smartphone ou um tablet, o que nos leva a crer que a acessibilidade digital pode virar uma realidade apenas no final desta década. 

Me questiono se realmente é possível uma acessibilidade 100%, se uma inclusão não exclui outra. Será que devemos recriar a comunicação universal? A comunicação acessível não necessariamente é a mais inclusiva ou compatível com algoritmos. No fundo, são os números que comandam, sejam os financeiros ou os algoritmos  Se simplificarmos a comunicação ao ponto que seja acessível para todos e para os algoritmos, também limitamos o acesso à informação, pois no momento, a união dos dois é uma informação curta e muito simplificada, rasa. 

O bom senso é uma tentativa de encontrar o caminho do meio, mas é importante aceitar que não há como agradar e incluir a todos. Podemos adotar algumas medidas para a comunicação ser mais acessível e amigável, como os sites se tornarem responsivos, isso facilitará a compatibilidade com apps de acessibilidade, as cores do site precisam se ajustar a luz do sol ou sensibilidades visuais, ter opção de aumentar ou diminuir a fonte. As imagens precisam ser descritas no backend, os vídeos precisam de legenda e descrição das pessoas ou situação envolvida, as fontes precisam dar boa leitura, recentemente o Instagram voltou com a fonte Comic Sans, por ser considerada a mais amigável para pessoas com dislexia. Não inserir muitos recursos de movimentos apenas por questão de estética, pois isso pode impactar negativamente pessoas portadoras do espectro autista. Faça uso das legendas alternativas presentes nas mídias. Essas são algumas sugestões que colocamos em prática nos últimos 3 anos e recebemos bons feedbacks de parceiros e pessoas portadores de deficiência, que cercam o universo de Carlotas, uma empresa com propósito social, que busca se estruturar nos pilares da diversidade e inclusão, um caminho sem volta para as empresas que desejam atravessar a 3ª década deste século. 

Leia mais: Cartilhas de Acessibilidade Digital 

 Imagem da capa: Ashwin Vaswani via Unsplash,

Camila Locks

Comunicadora, curiosa, crocheteira, escaladora, nômade digital, ouvinte, colecionadora de histórias. Um dia abri uma janela e percebi que o mundo tinha muito mais a oferecer fora de quatro paredes, um mundo que me permite me aceitar do jeito que eu sou e olhar para o outro com mais atenção. Com meu computador na mochila parti para as montanhas, para experienciar coisas diferentes.


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