Na maioria do tempo, eu tendo a ser bastante otimista. Na verdade, talvez eu tenha mesmo é uma memória seletiva, que retém só a parte boa daquilo que de fato me importa, me toca, me emociona e me move.
Por conta disso, venho conhecendo cada vez mais gente que está chacoalhando a si mesmo – e o mundo – com pequenos gestos, em detalhes sutis e com a simplicidade que passa despercebida aos olhos de quem ainda não saiu da caverna.
Pode ser coisa da minha cabeça, mas é curioso pensar que muitas dessas pessoas compartilham pontos em comum e influenciam questionamentos e mudanças profundas através de gestos singelos, sem maiores pretensões. Por isso decidi colocar no papel alguns poucos sinais que, para mim, indicam que estamos saindo da nossa zona de umbigo e ganhando mais consciência sobre como cada pensamento, cada ato e cada decisão que tomamos impacta o mundo de alguma forma.
1. Desperdício Zero
Abolir da vida tudo aquilo que não é estritamente necessário, como canudinhos de plástico, pazinha de mexer café e aqueles plásticos infinitos que a gente nem sabe pra que servem. Optar por embalagens ecologicamente responsáveis e – quando der – evitá-las também. Além disso, não deixar comida no prato, nem água na garrafinha que vai pro lixo é prova de que você honra e valoriza o que pode consumir e não é conivente com a cultura do descartável.
2. Consumo Repensado
Quando passamos a nos preocupar mais com o SER do que com o TER, ressignificamos nossa relação com o consumo. A indústria têxtil, por exemplo, é uma das maiores produtoras de lixo do planeta, além de muitas vezes explorar mão de obra infantil ou fazer uso de trabalho escravo ou análogo. Questione e conheça de onde vem o produto que você PRECISA adquirir, como se forma a cadeia de produção e quais as condições de trabalho e remuneração de todos os envolvidos. Valorize produtores locais, pequenos empreendedores e incentive a economia colaborativa, solidária e o comércio justo.
3. Cheque mate no senso comum
“A vida agora tá muito chata”. A vida tá mais chata, porque graças à evolução da espécie a gente se deu conta que agora não dá mais pra resmungar qualquer baboseira preconceituosa, superficial ou discriminatória sem passar despercebido. Rever nossas crenças e revisitar o senso comum nos permite um novo olhar sobre velhas coisas. E também pode nos tornar os “chatos” do rolê…
4. Sem mais julgamentos
Crescemos em uma sociedade onde nos parece normal avaliar condutas, julgar pessoas, acontecimentos e, supostamente, emitir pareceres fundamentados em nossa absoluta ignorância com relação à vida do outro e, em muitos casos, à nossa própria vida. Deixar de julgar quem quer que seja, começando por nós mesmos, nos liberta da necessidade de sempre ter algo a dizer, mesmo que seja uma abobrinha, além de nos permitir transitar com mais fluidez e segurança em campos que realmente importam, sem se preocupar tanto com o peso de uma sentença vazia e quase sempre superficial.
5. Menos Conversa Fiada, Mais conteúdo
Em alguns ambientes eu percebo uma certa resistência a cultivar conversas mais significativas. Pode ser medo de se expor, pouco interesse, intolerância a diferenças ou simplesmente falta de costume. Fato é, enquanto perdemos tempo e energia com conversinha fiada, críticas, especulações e superficialidades, daria pra gente se aprofundar no que realmente importa. Na gente mesmo, num bom livro, um curso bacana ou até mesmo em fazer nada. Nosso tempo é precioso demais pra ser empregado em algo que não contribua em nada para nos tornar seres humanos pelo menos um pouquinho melhores.
6. Gentileza gera Transformação
Ser gentil despretensiosamente estabelece um ciclo virtuoso bastante importante na vida de qualquer um. A gentileza, nesse caso, não deve ser discriminatória, interesseira ou friamente calculada. Ser cordial apenas com quem pode lhe trazer algum tipo de benefício não é gentileza, é oportunismo. Pergunte e memorize o nome das pessoas, agradeça sorrindo, ofereça ajuda, escute atentamente e procure ser uma fonte de boas energias por onde passar.
7. Discuta soluções, não problemas
Basta inverter o olhar. Muitos de nós têm a tendência de discutir exaustivamente o problema. Presunções, julgamentos, lamentações, conversa fiada e quase sempre nenhuma conclusão a ser aproveitada. Uma pausa pra um respiro e um olhar mais prático e otimista podem nos levar a discutir soluções e descobrir caminhos sequer considerados. Assim se faz a magia de investir energia e diálogo no lugar certo.
8. Reconheça privilégios, reavalie o mérito
Não basta reconhecer e honrar nossa história pessoal. Para que isso faça sentido e seja coerente, é preciso conhecer e valorizar ao menos algumas tantas partes significativas da história da humanidade. Se informar sobre processos de colonização, sistemas econômicos, evolução política e social, conquistas de direitos e um pouco de tudo que contribui com nossa caminhada até aqui, 2016, vai esclarecer muita coisa. Não conseguir reconhecer nosso lugar de fala, nem os privilégios que usufruímos, pode nos dar a falsa sensação de que todo mundo compartilha das mesmas oportunidades e, portanto, o mérito é pura consequência de um pouquinho de esforço dessa “gente de bem”.
9. O Simples é Luxo
Quando se começa a preencher o vazio de dentro, felicidade se resume a apreciar a simplicidade daquilo que já temos por perto, que não custa nada e se reflete por bons sentimentos e emoções. Não há nada mais admirável do que gente humilde, que valoriza a natureza, vive em harmonia, se reconhece como uma partícula minúscula na galáxia – em constante evolução – honra compromissos, é grato e se coloca a serviço de quem esteja no caminho. Como diria Satish Kumar, isso é um pouco da tal “simplicidade elegante”.
10. Meu Papel no Mundo
Questione-se. Para o Mark Twain, “os dois dias mais importantes da nossa vida são o dia em que nascemos e o dia em que descobrimos o porquê”. Reconsiderar nossas crenças e revalidar nossas escolhas é um caminho para descobrirmos qual o papel que pretendemos exercer no mundo. Essa não é uma resposta que vem do cosmos. É um processo de descoberta e libertação, que depende única e exclusivamente da nossa vontade de significar para nós mesmos e para o planeta.
Referências e fontes:
– https://www.embrapa.br/tema-perdas-e-desperdicio-de-alimentos/sobre-o-tema
– http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2016-06/brasil-desperdica-40-mil-toneladas-de-alimento-por-dia-diz-entidade
– http://www.brasilpost.com.br/2016/09/14/de-onde-vem-as-roupas-de-seus-filhos_n_11996756.html
– http://truecostmovie.com
– http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/o-que-e-e-como-funciona-o-comercio-justo,8d3ad1eb00ad2410VgnVCM100000b272010aRCRD
– https://www.ted.com/talks/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story
– http://www.resurgence.org/satish-kumar/
– https://www.ted.com/talks/david_steindl_rast_want_to_be_happy_be_grateful
Esse artigo foi previamente postado no site da Think Twice