A Barbie chegou em Hollywood em grande estilo. Com estrelas famosas, muito recurso financeiro e dirigido por uma das melhores diretoras e diretores da atualidade, Greta Gerwig, que escreveu o filme com Noah Baumbach, seu marido.
O roteiro do filme da Barbie é uma sátira. As situações e diálogos (muitas vezes óbvios) ridicularizam, com muita ironia, estruturas que nos são impostas.
Não entrarei em detalhes sobre o histórico da boneca Barbie, mas só lembrar que ela foi criada por uma mulher em 1959, lançada pela Mattel, uma empresa gerida por homens. Durante décadas a boneca e a marca Barbie estão tentando se atualizar, acompanhando as mudanças que acontecem fora dos escritórios da Mattel. E o filme lançado com recorde de bilheteria é mais uma ação bem sucedida nesse sentido.
Esse texto é para quem já assistiu o filme ou não se importa com spoilers. Para quem se importa, deixo aqui um dos trailers do filme. Para quem quiser continuar lendo, tem mais abaixo.
Greta recriou a Barbieland, o mundo da Barbie, que me lembrou quando eu brincava de Barbie na casa da minha prima Bárbara (sério!), que tinha a casa da Barbie com elevador, carro conversível e várias bonecas e acessórios. O filme começa e conhecemos um mundo de “faz de conta” onde não há preocupação. Tudo é perfeito! Um lugar mágico de sororidade, coreografias e rosa pink. – Uma curiosidade sobre a cor rosa, ela não fazia parte da marca Barbie quando foi criada. A cor só virou assinatura da boneca em 1970, em mais uma estratégia de marketing da Mattel.
A personagem da Margot Robbie, a Barbie “estereotípica”, começa a ter pensamentos que fogem da perfeição proposta. Para solucionar isso, ela tem que visitar o mundo real para achar a menina que está brincando com ela na versão boneca. E por aí segue o enredo.
Aqui nesse artigo trago os 5 pontos para refletir sobre o filme da Barbie:
1) Assumidamente incríveis.
Antes da Barbieland ser invadida pelo patriarcado ao receber um prêmio a Barbie não dizia “obrigada” e sim: “Eu trabalhei duro por isso e eu mereço isso”. Depois passaram a responder com “Uau! Nem sei como cheguei aqui!”. Mostrando sutilmente que nas estruturas que temos instaladas as mulheres são ensinadas a se diminuir
2) Patriarcado invertido.
Ouvi algumas pessoas dizendo que a Barbieland mostra um mundo feminista, mas discordo. O feminismo é sinônimo de igualdade e não de mulheres com poder sobre os homens, isso é o patriarcado invertido. As partes mais engraçadas, na minha opinião, são nos diálogos dos personagens Kens, principalmente o do ator Ryan Gosling. Adorei o sarcasmo de Greta e Noah na criação dos diálogos que ilustram a insegurança masculina de uma maneira que não estamos acostumados a ver, sem a estrutura patriarcal a sua volta. O Ken também visita o mundo real e traz de volta consigo alguns livros que inspiram mudanças na Barbieland e que logo vira Kendon.
3)Desconstrução do perfeito.
As personagens do mundo real que voltam com a Barbie para Barbieland são Glória, interpretada pela atriz America Ferrera, e a sua filha Sasha, pela atriz Ariana Greenblatt. Elas representam a “mulher moderna”, cansadas do estereótipo perfeito da boneca. Elas questionam o porquê da Barbie ser sempre tão extraordinária, como presidente, astronauta, e também a perfeição física da boneca. Em um discurso potente direcionado a sua Barbie, Glória afirma: “É literalmente impossível ser uma mulher” e continua: “Você é tão bonita, e tão inteligente, e me dói que você não ache que é boa o suficiente. Tipo, nós sempre temos que ser extraordinárias, mas de alguma forma estamos sempre fazendo errado.” Pois é.
4) Allan.
Esse boneco foi lançado em 1964 mas cancelado 2 anos depois. Na sua caixa dizia: “o amigo de Ken” e “todas as roupas de Ken lhe servem“. No filme de Greta, interpretado por Michael Cera, o personagem é sensível e hilário. Ele vai te fazer rir com seu “bromance” com Ken e depois como aliado das Barbies na tentativa de reconstruir a Barbieland, e assim livrar seu amigo da pessoa que ele se tornou. Allan é o herói inesperado que, ao meu ver, representa os homens que questionam as regras machistas impostas sobre as mulheres e homens e se manifestam a respeito.
5) Executivos da Mattel.
O escritório da Mattel e seus funcionários são parte do filme. O escritório é cinza e chato, menos a sala da diretoria no topo do prédio, que traz o rosa da Barbie. Nos dois cenários só vemos homens trabalhando. O CEO finge ser uma boa pessoa, mas sempre escapa um comentário que mostra que seu interesse é um só: o lucro. Interpretado por Will Ferrell, o executivo logo nega a ideia da Glória de criar uma “Barbie ordinária”, mas volta atrás em 2 segundos quando seu CFO diz que a ideia vai gerar lucros.
E nesse último ponto acho que os escritores mostram um pouco sobre a criação do filme da Barbie, que mesmo com um roteiro tão controverso foi aprovado pela Mattel. Como será que conseguiram aprovar tal produção? O sucesso de bilheteria, o aumento na venda das bonecas e o licenciamento da marca respondem a pergunta.
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