Estamos passando por um longo processo em que muito temos lido e ouvido sobre saúde e adoecimento. Por isso, gostaríamos de propor uma reflexão sobre como o autoconhecimento e autocuidado podem fazer grande diferença em nossa qualidade de vida e daqueles que nos cercam.
Muitas vezes, vamos buscar orientações fora do nosso seio afetivo, esse lugar de cuidado e conhecimento, com a sensação que as melhores respostas estão fora do nosso núcleo de convívio. Queremos reforçar, no entanto, que pessoas da nossa família ou do nosso cotidiano, também têm muito a nos ensinar e a compartilhar. Por vezes, esses saberes de pessoas próximas ficam adormecidos em nós. Então fica o convite para esse resgate. Vamos abrir alguns pontos de conhecimento que nasceram em nossa jornada, mas cada Ser precisa, de alguma forma, descobrir o seu próprio caminho de autoconhecimento: o que gosta e como gosta, o que lhe transborda e fere. Assim, aprendemos sobre essa pesquisa de vida, pois nem sempre o que serve para um servirá para outra e vice versa.
Nosso corpo é uma conexão de vários corpos, sendo eles: Físico, Emocional, Mental, Espiritual e Social. Sabemos que precisamos dar atenção a cada um deles, e esses cuidados beneficiam nosso ser em vários aspectos. Neste texto, vamos destacar especialmente a forte relação entre os corpos emocional e físico.
Existe uma conexão direta entre autoconhecimento e autocuidado que nem sempre é compreendida com a devida seriedade. No entanto, é nítido perceber que quanto mais nos conhecemos, melhor nos cuidamos e nos acolhemos. E, em oposição a isso, corremos o risco de nos abandonarmos ou cuidarmos mais dos outros do que de nós. Nesse caso, nossos corpos não tardam em adoecer, e os sinais podem aparecer de várias formas.
Às vezes, um pensamento ruim persistente pode nos deixar estressadas(os), ansiosas(os) ou com dor de cabeça; algo que não foi dito pode nos dar dor de garganta, enjoo ou dor de estômago; o abraço que não foi dado pode deixar a sensação de um vazio e/ou uma tristeza não acolhida; a lágrima que não foi chorada pode nos deixar gripados ou com tosse; algo que deixamos de fazer ou resolver pode nos deixar desnorteadas(os), irritadas(os), com dor nas costas e até nos joelhos.
É fácil perceber nesses exemplos a conexão entre os corpos, pois quando algumas emoções não são bem acolhidas, é comum vivenciarmos o adoecimento no corpo físico. É possível citarmos muitas outras referências deste entrelaçamento como, por exemplo, os momentos em que vivemos intensamente situações de medo, pânico e insegurança, e essas emoções chegam a pesar nos rins, a ponto de desenvolvermos incontinência urinária e queda de cabelo. Ou quando a tristeza carregada de melancolia que afeta nossos pulmões podendo causar gripe, falta de ar e cansaço. Já a raiva que traz a irritação e agressividade, pode desenvolver gastrite e enxaqueca.
Todos esses exemplos salientam a importância de cuidarmos e acolhermos nossos corpos para não adoecermos. De certa forma, não fomos educadas(os) para reconhecer, nomear e acolher nossas emoções (a chamada educação emocional) e, por isso, na maioria das vezes, não as relacionamos com nossa saúde.
Estamos vivendo algumas demandas que podem durar um tempo maior do que o previsto e, de alguma forma, também estamos sendo chamadas(os) para repensar nossos hábitos. Este é um momento importante que carrega um convite ao repensar nossa relação com os nossos diferentes corpos e com o mundo. Nem sempre será um movimento fácil, por isso, quando precisar de ajuda, não tarde em pedir, pois será na partilha e no acolhimento que aprenderemos a viver e ressignificar quem somos e descobriremos diferentes maneiras de nos acolhermos.
Precisamos dar um passo de cada vez e, assim, construir nossa caminhada. Em alguns momentos, precisaremos caminhar mais rápido ou devagar, sozinhas(os) ou acompanhadas(os), com leveza ou pesar, mas o importante é não parar o movimento fluido que a vida nos oferta nesse momento que chamamos de Presente.
Essas referências trazidas neste texto nasceram da minha experiência como filha, mulher, mãe, Doula, acolhedora… A pesquisa de autocuidado vem de cada uma, pois essa busca já é uma jornada de autoconhecimento.
*Imagem da capa: Gregory Escande via @photo_in_moz