O ponto de vista do Zeca sobre o dia a dia dele na pandemia

Zeca é um menino muito falador e adora contar histórias, ele mora em Carlotas com sua mãe Nara e sua irmã, a Tuca. Adora jogar futebol no campinho, ou em qualquer lugar, está sempre com sua bola debaixo do braço e quando começa a falar coloca a bola no pé, para equilibrá-la, enquanto conversa. Ele e Tuca estudam na escola perto da casa deles, Zeca têm muitos amigos, Tuca só tem uma. O Zeca veio aqui conhecer você e, óbvio, contar a história! Ele quer falar sobre como ele e sua família estão passando esse momento de pandemia. Leia e conheça os sentimentos do menino nesse momento difícil, lidando com uma pandemia global. Vamos à história!

Zeca:

Acordei no final de semana sem entender o que minha mãe falava. Estava com minha avó no telefone e parecia muito preocupada. Escutei meu nome e o da Tuca. Logo pensei: “Senta que lá vem bronca!”

Fui atrás de Tuca para tentar entender toda essa preocupação da minha mãe. Tuca tem baixa visão, então tenho que chegar bem pertinho dela para que possa me ver. Nem precisei começar a conversa com a minha irmã, pois nossa mãe entrou no quarto bem na hora que íamos começar a tentar entender o que estava acontecendo.

Ela disse que iríamos para escola somente na segunda feira, e depois a escola iria fechar por um tempo. Na hora fiquei feliz, pois tinha um exercício de matemática para entregar na terça-feira e não ia precisar fazer, mas vendo o rosto preocupado da mamãe minha alegria se transformou em medo: “Por que será que não vamos pra escola?”

Segunda-feira cheguei na escola e estava uma confusão. Cada um falava uma coisa, ouvi palavras como: vírus, doença, máscaras, corona, pandemia – que não sei o que é, mas me lembrou do “Gato Mia”. O que entendi mesmo é que iria ficar sem poder sair, só poderíamos ficar EM CASA. O que faço sem o campinho? Sem o Pedro e o Rafael? E o pior, a professora disse que não poderíamos ter contato com pessoas mais velhas. E agora? Achei tudo muito estranho porque passo todas as tardes com a Vó Maria.

Chegando na casa da minha avó naquele dia, ela disse que esse tal de corona vírus era muito perigoso. Não entendi. Perigoso? Eu não tinha entendido isso. Ela sempre falava que perigoso era o cachorro do vizinho que late quando chegamos perto do portão. Como será que o vírus é perigoso? A professora falou que não podemos encostar no outro e não pode colocar a mão na boca ou nos olhos. Fiquei pensando ali com a vovó, como que algo perigoso vive em um abraço? Ela também não sabia a resposta.

Minha mãe chegou mais cedo para me pegar na casa da vó, e dessa vez ela entrou ao invés de buzinar do carro. Sentamos na sala para conversar e a mamãe contou que começaríamos uma quarentena. Quaren.. o queeee? Ela nos explicou que quarentena é quando precisamos nos recolher, ficar em casa, sem sair. Ela disse que ela continuaria a trabalhar de casa e nos explicou que o vírus se espalha com facilidade e se não ficarmos em casa podemos pegar. Disse que não precisamos ficar com medo, mas devemos ser cuidadosos. Não aguentei. “Mãe, o campinho e a casa da vó estão liberados? ” Ela disse um NÃO bem grande. Fiquei com muita raiva. Como fazer para encontrar meus amigos?

Tuca me acalmou em um abraço e me disse que ia ficar tudo bem, ela disse que abraço de mana pode, e minha mãe concordou. Mesmo sabendo que a Tuca é mais nova e nem sabia de nada eu me tranquilizei, pelo menos tenho ela para brincar em casa. Mamãe continuou e disse que precisamos lavar bem as mãos sempre que entrarmos em casa, a dica dela é que a cada lavada cantemos “parabéns para você” duas vezes.

Os dias passaram. Semanas passaram. Eu e Tuca brincamos e brigamos muito também – coisa de irmãos!! Assisti TV, fiquei na janela admirando o campinho e pensando na vó Maria, ligava para ela todos os dias, às vezes mais de uma vez por dia. Tenho alguns jogos no computador. Não tenho celular. Minha mãe disse que ainda não tenho idade para ter e ela também não tem condições de comprar. Estava entediado, nada me animava. Nossa rua que sempre foi barulhenta estava tranquila. Nem o Cristóvão, o moço que vende pão, passou. Isso me deixava inquieto e com uma sensação pesada no peito.

Até que tive uma brilhante ideia. O Pedro mora duas casas para cima, então, com a ajuda da mamãe, que se fez de Correios, mandei uma carta para ele. E ele respondeu no mesmo dia. Então começamos a nos comunicar por cartas. Eu escrevia para ele todo dia e sempre achávamos uma carta debaixo do capacho, falávamos do nosso dia, dos desenhos que estávamos assistindo e também como estávamos nos sentindo. Acho que nem eu, nem ele sabíamos ao certo o que sentíamos. Tudo ainda estava muito confuso, tinha dias que eu chorava sem saber o porquê e outros que eu estava feliz e brincando sem lembrar da tal quarentena.

Hoje, já passou mais de um mês, estamos mais acostumados com a situação. Minha mãe está conosco desde o primeiro dia, às vezes ela está estressada com o trabalho, mas mantém seu tom de voz tranquilo, o que sempre me acalma. Ela sempre explica que precisamos entender que esse momento é apenas uma fase, e logo vai passar. Ela me explica melhor: “sabe as fases do seu video-game? Essa é uma fase difícil, daquelas que temos que jogar muito para passar, que nos frustra e nos deixa nervosos, mas passa. Sempre passa.”

Se quiser saber mais sobre nossos projetos ou se tiver interesse em contribuir de alguma forma com conteúdo alinhado ao nosso propósito ou ideias, envie-nos uma mensagem que entraremos em contato com você o mais rápido possível!.