Era um dia cinza de inverno quando Flora nasceu. Naquele frio, algo surpreendente aconteceu. No exato minuto que seus pais ouviram seu choro, o céu se abriu numazul turquesa intenso e o sol de uma amarelo alaranjado com seus raios dourados vieram dar as boas vindas para a pequena.
Flora ia crescendo e cada vez mais adorava ser menina. Daquelas com saia, fita no cabelo, brinco e gliter por todo o lado. Daquelas que acham que os meninos são muito barulhentos e não sabem falar. Ela é o tipo de menina que traz muita alegria por onde passa. E, principalmente, muita cor.
Tudo que Flora tocava, se coloria de acordo com o que ela estava sentindo. Se divertia tocando o mundo com seu dedinho e colocando nele um pouco do seu coração. Mas, o que ela mais gostava de fazer, era pintar e repintar as flores do seu jardim.
Tinha dias que o jardim parecia o mar de um azul quase transparente. Eram os dias que a Flora não estava feliz. Normalmente, esses eram dias de chuva, chuva de lágrimas. Mas tinha dias que as flores ficavam como o sol e aqueciam tudo em volta, mesmo se o céu estivesse nublado. Outros, as flores ficavam vermelhas tão intensas que doia de olhar, como se os espinhos chegassem aos olhos da gente.
Até que um dia, o jardim amanheceu cinza, de uma palidez grave. Tudo era silêncio e Flora não saiu de casa. Quem passava pela rua e estava acostumado a ver as cores lindas do jardim da Flora, estranhou. E se preocupou quando o jardim continuou assim no dia seguinte. E no outro.
– O que será que aconteceu? – perguntava a Dona Beta olhando da sua janela. Fazia tempo que as flores estavam acinzentadas e a Flora não saia nas ruas saltitando.
Foi quase uma semana assim, sem Flora, mas, finalmente, as flores começaram a arroxear.
De lilás para violeta e então, para púrpura. Flora continuou sem sair para ver seu jardim. Os dias passaram e, no meio daquelas flores roxas, surgiu uma azul marinho. Mais um pouco, tinha uma flor escarlate. Vanessa e Hermes, beges de saudades, passaram ali na frente, pararam e ficaram olhando aqueles tons, pesados e sem brilho, que diziam tanto sobre a Flora naquele momento. Com tristeza, continuaram a caminhada com um sorriso amarelado de quem carrega cascalho no coração.
Nos dias que seguiram, essas três cores faziam uma dança pelo jardim, revezando nas flores sua presença e intensidade. Nessa dança, foram surgindo outras cores, amarelo, rosa, laranja, verde e, finalmente, branco.
Então, Flora abriu a porta de casa, olhou suas flores, sorriu e disse: – “Há beleza em todas as cores, há momentos para todas as cores e há sempre um novo dia para colorir as flores novamente.”