Stela, o tamborim, professor Roberto e a cultura em dia de festa

Se eu tivesse que dar outro sobrenome para a Stela, seria Stela Apressada dos Santos. Ela me disse que, desde que se conhece por gente, vê sua mãe Aurora e seu pai Adolfo correndo para lá e para cá, sempre ocupados, as vezes ocupados e atrasados, por isso, ela aprendeu quase tudo o que queria sozinha.

Sua rotina, durante a semana era bastante… adivinhem: OCUPADA. Quando voltava para a casa, da escola, fazia tudo com o tempo contado em minutos. Ela almoçava em 9, fazia a lição de casa em 28, na segunda feira eram 55 de aula de inglês e 40 desenhando em seu caderno de arte. Stela também dava aulas particulares de matemática às terças e quartas-feiras para sua vizinha Bia, que por sua vez, retribuía a gentileza com outros 60 minutos de reforço de gramática às quintas-feiras.

Mas, eis que chega sexta e com ela, a ocupação mais preciosa, a favorita: O TAMBORIM! Stela, que ama música, principalmente uma boa batucada, descobriu o tamborim quando pequena e desde então passou muito tempo estudando, sozinha, tudo o que podia sobre o instrumento. Ela diz que tocar tamborim é como: “tocar as batidas do meu coração” e acrescenta “meu tamborim é mágico”. Todos os minutos que tinha livre das atividades eram dedicados para o tamborim, mesmo quando era muito tarde para fazer barulho ela tocava no ar mesmo, mexendo as mãos, os braços e a cabeça como se tocasse alto para todos ouvirem.

Quando tinha 13 anos encontrou um programa de música gratuito para que ela pudesse por em prática tudo o que aprendera sozinha. Finalmente era hora de unir todos aquele batuques com mais gente e mais instrumentos, e formar uma banda! No primeiro dia de aula ela estava tão animada que nem queria comer, sua mãe a acompanhou até o ensaio por isso foram andando, mas se estivesse sozinha Stela teria ido correndo para chegar mais rápido.

Stela completou 1 ano frequentando o programa e passou os últimos 2 meses ensaiando junto com a banda, para a apresentação de final de ano dos alunos. Lembro dela me contar o quão nervosa estava no dia que precedia o evento, afinal ela ia subir no palco montado na praça principal. É um evento esperado por muitos lá de Carlotas como uma celebração a boa música. Stela me disse que tinha medo de na hora do show esquecer a música e ficar paralisada, congelada como um picolé de morango, com um tamborim numa mão e a baqueta na outra.

O dia chegou! A praça estava cheia! Todo mundo decidiu sair de casa para assistir a apresentação. Estavam lá as crianças, os pais, os avós e até os bichinhos de estimação. Seu Antônio trouxe seu periquito e seu papagaio que descansavam em seus ombros. Eu estava meio longe mas avistei Stela junto com a Aurora e o Adolfo, ela estava muito feliz, pois seus pais passaram de “ocupados” para “empolgados”, os dois não paravam de tirar fotos dela com seu tamborim, eu a via abrir um sorrisão para cada foto, ela parecia ocupada em se divertir.

Antes que a apresentação começasse, Roberto, maestro e professor da turma, subiu ao palco para agradecer a todos presentes, e emocionado, dedicou aquele show àqueles que apoiam as artes e a cultura. Ele falou sobre a importância de criar e manter iniciativas e projetos culturais focados na inclusão e diversidade, explicou para os demais, que a cultura é a alma de qualquer povo e é o que acalenta nossas mentes em um mundo cheio de obstáculos. Terminou dizendo que a cultura constrói pontes entre pessoas e abre as portas para conhecermos novos mundos e ideias. Todos aplaudiram o professor de pé, Stela gostou tanto que quase não conseguiu acompanhar no tamborim o tum tum tum de seu coração, de tão acelerado que ficou.

O show então começou! A banda inteira entrou no palco que sentiu o peso de tanta alegria e tantos instrumentos ao ponto de dar uma leve abaulada no meio. Isso não intimidou as 45 crianças que participaram do programa naquele ano.

Para apresentação fiquei perto dos pais de Stela e dali, pude ver ela puxando todas as músicas com seu tamborim pra lá e pra cá. Nunca vi tanta gente dançando naquela praça, parecia que estávamos comemorando alguma coisa. Era como se a correria dos compromissos, a chatisse da burocracia e todas as más notícias do ano tivessem tirado o dia de folga para que a gente pudesse dançar e cantar. As pessoas pareciam estar ha 3 centímetros do chão, flutuando. Acho mesmo que o tamborim da Stela é mágico!

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