Histórias e Yoga para crianças

Era uma vez uma semente que encontrou uma criança que viu na semente sua melhor amiga. Ela criou uma casinha para ela, uma caminha de terra e cuidou dela: regou, ofereceu luz do Sol, água, e lógico muito amor e diversão! A semente brotou, cresceu e se transformou em uma linda flor. Ela, antes sozinha e sem saber quem verdadeiramente era, ganhou um nome e descobriu que toda sua essência já existia dentro dela e no contato com a criança, conseguiu ganhar força e crescer, se descobrindo, enfim! Este é um resumo de uma história que escrevi para as crianças e conto no início das minhas aulas de Yoga com Histórias.

Com movimentos do corpo e posturas do Yoga nos transformamos em sementes, brotos, árvores e lindas flores.

Surgem pássaros e abelhas que fazem a polinização. Então, vivemos essa história com nosso corpo. E terminamos com um gostoso relaxamento, em que trabalho a visualização criativa com as crianças com a criação de um lindo jardim onde encontram amigos, brincam e se sentem livres e especiais.

Por que Yoga para crianças na Educação?

Esta foi a primeira pergunta que fiz para começar meu trabalho nas escolas e em outros espaços educativos. Fui buscar referências na Pedagogia; no Hatha Yoga, e na metodologia do Yoga com Histórias (criada por João Soares e Rosa Muniz). Acredito que todo processo de adquirir conhecimento também é um processo de autoconhecimento. Então, como descascando uma cebola para encontrar o cerne da questão, fui compreendendo que para além dessa primeira pergunta eu tinha outras que me instigaram:

Por que há um crescimento do sofrimento psicológico e emocional entre as crianças e adolescentes nestas últimas décadas e como podemos ajudá-las?

O que é essencial para que crianças e jovens possam se desenvolver de forma livre, saudável e feliz?

O que estamos fazendo enquanto sociedade (instituições sociais, escolas, comunidade, família) para que verdadeiramente as crianças e jovens possam fazer emergir suas potencialidades e sonhos, desenvolvendo internamente valores humanos essenciais?

Minha aproximação com o Yoga e Meditação aconteceu na adolescência e acredito que me influenciou muito nos processos de busca por autoconhecimento e na busca da minha relação com a espiritualidade ou algo transcendental. No sentido etimológico, Yoga vem da raiz “Yug” que significa “união”. Por isso acreditamos que o corpo no Yoga é visto como algo integral – não há separação entre corpo – mente – alma ou consciência. É possível dizer que surgiu na busca por uma conexão com o sagrado – o divino ou o aspecto espiritual em cada um de nós – e com toda a natureza.

Assim, o Yoga é uma prática para o corpo compreendido em sua integralidade, envolvendo exercícios respiratórios (pranayamas), posturas psicofísicas (ásanas), meditação, relaxamento, além dos aspectos filosóficos e éticos (yamas e niyamas) contidos em muitas escrituras relacionadas ao Yoga Clássico.

Muitos mestres indianos acreditam que uma das principais causas dos sofrimentos que vivemos na atualidade, se encontra no estado de separação e divisão que vivenciamos: entre nosso mundo interno e externo, entre mente e corpo, entre nós e a natureza, entre nós e o outro…

Pudemos experienciar mais intensamente este estado de separação, por exemplo, no período da pandemia em que tivemos que obrigatoriamente permanecer em isolamento social. Quanto às crianças, são muitos os estudos que identificaram os prejuízos decorrentes deste período, não é mesmo?

O Yoga neste sentido parece ser uma prática muito interessante para o “resgate” do corpo e toda sua potência, buscando um sentido de conexão. Como exemplificado no início do texto, o Yoga para crianças pode ser desenvolvido por meio de uma linguagem lúdica, com outras metodologias e práticas: envolvendo brincadeiras, contação de histórias, música e artes de forma geral. É isso que propõe a metodologia do Yoga com Histórias e outras desenvolvidas especificamente para crianças.

Acredito que a relação das crianças com seu corpo, com a natureza e o meio social deveria ser o foco principal das ações educativas – e é isso que chamo de Pedagogia do Ser – principalmente nos tempos atuais, em que as crianças estão, cada vez mais, vivenciando estes estados de separação. Afinal, como mostra bem a história da semente do início do texto, todos nós carregamos a potência do ser essencial dentro de nós, basta um terreno fértil, cuidado e amor, para que possamos florescer e quem sabe não encontramos uma criança neste caminho.

Se você gostou desse texto na Fernanda, leia aqui o artigo dela sobre “Pertencimento e Valores Humanos”.

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