Junho, o mês do afeto no chão da escola

Chegamos ao fim do primeiro semestre e continuamos acolhendo a comunidade escolar de maneira híbrida e muito afetiva aqui no ExploreCarlotas. Seguimos em contato próximo com cada uma das escolas parceiras, percebendo e ouvindo suas necessidades e refletindo sobre como podemos acolher e apoiar cada núcleo educacional. Poder participar presencialmente das atividades e encontros que acontecem no chão da escola tem sido muito enriquecedor e fonte de aprendizados constantes. A cada visita ajustamos a rota das nossas ações, percebemos os nossos limites para não adoecermos, lidamos com alguns desafios, e nos cuidamos para poder acolher tantas diversidades em um momento de tanta transição.

Somos atravessadas por aquilo que acreditamos ser urgente e importante na educação, assim damos passos para ir de encontro com o que acreditamos. Na maioria das vezes é desafiador, pois necessitamos sair da nossa zona de conforto, precisando sempre pensar em cada relação que construímos nesse chão. Quem escutamos e como escutamos, com quem criamos parcerias e como criamos, como nossa fala e ações reverberam em nós e na outra pessoa, que pode ser a gestão, colegas e/ou amigas de trabalho, famílias e principalmente cada estudante, daqueles que chegam com 20 dias ou mesmo com os de 60 ou 70 anos, pois toda relação importa.

Neste mês de junho de 2022 seguimos dialogando sobre a empatia na educação em diferentes formatos. Ela tem sido o eixo central do trabalho de fortalecimento de vínculos no chão da escola. Como forma de ampliar a reflexão, a Carla Douglass e a Fabi Gutierrez entrevistaram o Cláudio Thebas (escute o podcast aqui ou assista o vídeo clicando aqui). Em uma conversa inspiradora sobre a importância de escutar com atenção plena, Thebas traz uma perspectiva do quanto a escuta pode ser desafiadora, pois é um exercício que nos coloca constantemente em contato com as nossas próprias limitações. Nesse desafio da escuta podemos ter um profundo medo de sermos transformados pelo outro, pois nos agarramos em nossas crenças e valores. E na disposição para essa escuta profunda e conectada, corremos o risco de sairmos diferentes, o risco de nos transformarmos.

A educação para empatia passa pelo adulto aprender a dialogar com a infância e perceber o quanto essa troca pode ser rica. Na contrapartida desse exercício de conexão, quando não nos vulnerabilizamos na frente da criança, ela entende que na vida adulta não existem problemas, além de perder a grande oportunidade de reconhecer a experiência emocional nesse adulto. Se não mostrarmos o que sentimos, a criança tende a achar que só quem tem problema é ela, o que dificulta a construção da sua autoestima e o desenvolvimento dos recursos de enfrentamento emocional. Trazendo uma linguagem leve, apropriada para a faixa etária e nos apoiando na linguagem do brincar, podemos transformar os vínculos afetivos enquanto ensinamos e aprendemos simultaneamente com elas.

Ainda acompanhando as reflexões sobre a empatia e o afeto nas relações de aprendizagem, esse foi um mês em que publicamos textos e materiais sobre a alfabetização afetiva. O afeto movimenta as relações e se faz presente em cada brincadeira e momento de amadurecimento da criança. A cada passo da sua jornada surgem novos desafios, como trocar de escola, conhecer novos amigos, ter outra professora, lidar com as frustrações das tentativas e erros, dividir o espaço, e até mesmo se alfabetizar. Cada criança traça um caminho para perceber as letras e conseguir codificar e decodificar símbolos, letras e palavras para então ser alfabetizada. Existem muitas formas desse processo ser vivenciado, e elas vão depender da combinação de muitos fatores.

Quase todas as escolas que atendemos compartilharam conosco que a alfabetização tem sido um grande desafio. Muitas crianças e jovens estão retornando à escola após 2 anos de baixa estimulação e muitos estão “desaquecidos” em relação à leitura e escrita. Essa retomada do ritmo tem sido uma longa jornada para todos os envolvidos. Nos inspirando na escuta de professores, estudantes e familiares, nosso desejo foi colaborar de alguma forma, o que resultou no Guia de Alfabetização e Letramento no Mundo de Carlotas (acesse aqui). Com o apoio de muitas profissionais da educação, construímos esse material pensando em uma maneira de dialogar sobre alfabetização sem deixar nossas emoções de lado. Esse guia vem recheado de contos de personagens do Mundo de Carlotas, apresentando possibilidades de diálogo, reflexões e mostrando o quanto cada criança também pode fazer parte desse Mundo de Carlotas. Como exemplo, temos a história do Kaiodê Kelé (acesse aqui) que foi escrito por uma criança, o mais jovem correspondente de Carlotas, com apenas 9 anos. E para aprofundar ainda mais as reflexões sobre essa caminhada, construímos um texto compartilhando olhares e vivências sobre a possibilidade de Alfabetizar com Afeto (acesse aqui).

Além de todos esses movimentos, junho também foi marcado por 15 encontros presenciais onde nosso time teve a chance de acolher e formar os profissionais das escolas públicas, que estão vivendo o dia a dia da rotina no chão da escola. Entre as visitas, em razão de um convite feito pelo NAAPA de Santo Amaro, conversamos sobre o autocuidado e escuta em um ciclo de 3 encontros na CEI Vila Ernestina. Observar o cuidado que temos conosco nos diferentes aspectos da vida faz com que sejamos mais capazes de reconhecer nossas emoções e necessidades. A partir daí, a escuta foi outra importante ferramenta para nos conectarmos com o outro. Abrir um espaço sem julgamento em mim para o outro qualificar a escuta e fortalecer nossas relações. Terminamos esse ciclo com uma atividade para refletir sobre situações, aprendizados, habilidades que gostaríamos de deixar no passado, o que é importante manter e o que ainda é preciso desenvolver no meu papel de professor. Pontos importantes para essa caminhada.

O ExploreCarlotas é um programa que está sempre à disposição para pensarmos juntas, possibilidades para que a educação esteja sempre dialogando com a empatia, o respeito e a diversidade. E esses espaços no chão da escola têm sido enriquecedores para que esse diálogo aconteça na prática. Esse mês fechou um semestre de muita entrega e transformação. Toda oportunidade é uma chance de dialogarmos sobre Empatia na Educação e seguiremos por aqui nos fortalecendo, para darmos conta de levar nosso time de educação para aquecer e ser aquecido a cada troca no chão da escola.

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