A minha concepção sobre o mês da consciência negra, é que, sim, é um mês de comemoração, mas sobretudo realmente um mês de reflexões sobre a história, os sofrimentos, as dores e as conquistas do povo negro, nessa trajetória desde os tempos dos escravizados.
Eu quero comemorar em homenagem a minha ancestralidade porque quando eu penso, o quanto eles sofreram sendo escravizados, sendo sequestrados, açoitados, torturados e assassinados, durante anos e anos, eu penso o quanto eles sonharam com dias melhores, se não para eles, para nós que nasceríamos depois. Eu penso o quanto eles lutaram por vidas melhores. Eu penso o quanto eles morreram pensando que o futuro da geração deles tivesse dias melhores.
Hoje, eu me sinto privilegiado, porque eu sou um homem negro livre, eu sou de uma geração que está conseguindo dias melhores, viver dias melhores, que está conseguindo o respeito e a dignidade que foram tirados deles. Quando a gente estabelece o mês da consciência negra, a gente estabelece comemorar essas vidas que foram tiradas em busca da sua liberdade em busca da nossa liberdade.
Hoje existe muito a ser alcançado ainda, até porque, eu sou praticamente a terceira geração após o fim da escravidão no Brasil. Isso quer dizer que sim, ainda sofremos as consequências, daquele povo que foi escravizado e esquecido lançado nas marginais dos rios da cidade, sem direito à educação, sem direito à saúde e de ter um trabalho.
Então, eu olho para trás e vejo os meus avós analfabetos, meus pais só com ensino fundamental, sofrendo e lutando para que eu estivesse aqui hoje sendo o primeiro membro da família formado com uma carreira universitária e numa condição um pouco melhor.
Então no mês de novembro eu comemoro a memória dos meus ancestrais, porque apesar de ainda sofrermos em consequência da escravidão (e sim, ainda sofremos), apesar do racismo ainda explicito e real, de sermos ainda marginalizados.
Eu comemoro porque nós estamos conseguindo conquistar o nosso espaço de respeito, porque estamos conseguindo realizar o sonho dos nossos ancestrais de vivermos livres, fortes e em busca de nossos direitos como seres humanos.