Dia Internacional do Orgulho Pansexual

Expandir o entendimento sobre a potência da diversidade é também não deixar nenhum grupo para trás. Celebramos mais uma data importante dialogando com Marcos sobre o que é ser uma pessoa “pan”, quais os desafios e como lidar com eles. Segue essa conversa.

Quem é você? Se puder contar um pouquinho sobre sua história.

Me chamo Marcos. Já tenho uns vinte e tantos anos e nasci lá pelas Minas Gerais, em pleno outubro chuvoso. Desde minha pré-adolescência um dos traços que nunca me abandonou – e creio que não me abandonará tão cedo, foi a curiosidade acerca das generalidades cotidianas e como o mundo, regido por nós, administrava tudo que acontecia.

Nessa fase da vida, eu tinha acesso limitado à informação e minhas ideias muitas vezes eram fruto de reflexões sem muito fundamento. No entanto, essa curiosidade era o ponto de partida para meu desejo incessante de compreender o mundo e a mim.

Além dessa minha curiosidade por tudo, sempre considerei crucial buscar conhecimento embasado, tentar compreender teorias e participar de discussões sobre os temas que me interessavam. Ainda hoje, quando me pego revisitando o passado, sempre me recordo das discussões na casa da minha saudosa avó, onde ela pacientemente, sempre atenta aos meus devaneios, escutava meus questionamentos e embarcava comigo na tentativa de compreender os porquês das coisas serem como são.

Desde sempre busquei interagir com todas as pessoas que me atravessaram (e ainda atravessam) a vida, pouco importando em distingui-las ou categorizá-las hierarquicamente. Essa minha atitude talvez tenha raízes na liberdade de diálogo que cultivei durante minha juventude.

Hoje, com meus vinte e tantos anos, percebo que encontro-me felizmente imerso na riqueza da diversidade e em todas as suas facetas. Além disso, a cada dia que passa surgem novas oportunidades para que eu me conheça melhor, oportunidades para que eu possa continuar a explorar o mundo, compartilhando minhas descobertas e experiências.

O que é ser pansexual? Como você se descobriu pansexual?

A pansexualidade, cujo prefixo ‘pan’ deriva do grego pantós, significando ‘tudo’ ou ‘todos’, é uma orientação sexual que se caracteriza por englobar múltiplos gêneros em suas atrações, seja sexual ou emocionalmente. Essa definição essencial do termo não esgota sua complexidade e amplitude, sendo apenas um ponto de partida para sua discussão mais profunda.

Ser pansexual é transcender as limitações binárias de gênero, envolvendo a atração por pessoas independentemente de sua identidade de gênero. Para mim, a descoberta da pansexualidade foi um processo gradual e reflexivo. Ao longo do tempo, percebi que minhas atrações não se restringiam a um determinado gênero, mas sim à pessoa como um todo, independentemente de como se identificavam. Foi um entendimento que se desdobrou ao longo da minha jornada, à medida que eu explorava e compreendia melhor minhas emoções e interações com outras pessoas, ultrapassando as barreiras convencionais de gênero.

Compreender-me como pansexual foi um processo desafiador, especialmente considerando a pressão social para categorizar e definir minha identidade. Durante minha adolescência, a interação com outras pessoas era limitada, e o ambiente onde cresci também contribuiu para a falta de exploração e compreensão das complexidades das orientações sexuais e identidades de gênero.

No entanto, ao longo do tempo, minha compreensão e aceitação da pansexualidade pôde se desenvolver, permitindo-me reconhecer e valorizar a diversidade de atrações que experimentava, independente das expectativas sociais ou das limitações de gênero impostas pela sociedade.

Há desafios em não estar no padrão esperado pela sociedade? Se sim, quais são e como você lida com eles?

Os debates acerca da pansexualidade muitas vezes ocorrem perifericamente em relação aos assuntos considerados prioritários para a sociedade em geral. A pansexualidade permanece como um “tabu” até mesmo dentro da própria comunidade LGBTQIAP+, onde um dos reflexos da sua pouca difusão é a escassez de material teórico sobre o assunto.

 Além disso, outro fator que contribui para o esvaziamento da discussão se deve à prevalência de uma interpretação equivocada que confunde pansexualidade com bissexualidade, levando a uma falta de reconhecimento e reflexão sobre as particularidades e nuances desse espectro identitário.

Enfrentar os desafios de não me enquadrar é sempre “pano pra manga” do meu terapeuta (risos). Às vezes, lidar com o estigma, a falta de compreensão e até mesmo a discriminação pode ser desafiador. Enfrento julgamentos e a pressão de me conformar com o que é considerado ‘normal’ pela sociedade, o que pode ser exaustivo.

Para lidar com isso, tenho buscado fortalecer minha autoaceitação e encontrar apoio em comunidades e grupos nos quais me sinto compreendido. Além disso, tento educar as pessoas ao meu redor, compartilhando minha experiência e promovendo a aceitação da diversidade. É um processo contínuo que requer resiliência emocional, mas estou comprometido em ser autêntico e em ajudar a promover uma sociedade mais inclusiva e aberta à diversidade.

Marcos
Marcos

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