Leo e Welington

É domingo.

Leo tem 12 anos. Ele acorda de manhã no seu quarto todo decorado com motivos de futebol. Na prateleira ficam arrumados os seus troféus e medalhas conquistados com o time da escola, do clube e nos campeonatos intercolegiais.

Ao lado da sua cama, ele tem uma mesa de estudo com um computador e uma coleção de jogos eletrônicos que ele só pode brincar depois de fazer a lição de casa. Ao lado, ele tem um cesto onde ele guarda todas as bolas que ganhou desde pequeno.

Mas hoje é domingo! Ele tem jogo no clube. Sua mãe entra no quarto e avisa que o café da manhã já está pronto. Leo levanta e veste o uniforme completo do seu time, a chuteira. Pega a mochila que já está preparada, escova os dentes e vai para a cozinha. Na mesa, estão sentados o seu pai, sua mãe e sua irmã menor. Sua mãe fez tostex, leite batido com nescau e um bolo cheiroso.

Seu pai está animado: Filho, hoje é a final! Vamos ganhar!

Sua irmãzinha pergunta se pode ir assistir o jogo, mas ele não dá muita bola para ela. A família sai, todos juntos de carro para ir ao clube. Depois do jogo, tem almoço na casa da vovó e todos os primos estarão lá!

É domingo.

Welington tem 12 anos. Ele acorda de manhã no pequeno barraco que ele mora com a mãe e mais 4 irmãos. Todos dormem num colchão no chão. O irmãozinho menor dorme num berço improvisado, ao lado da mãe.

Ele levanta antes que os outros e olha em cima da pia… quem sabe sobrou algum pãozinho de ontem. A mãe está com o bebê no colo e fala para ele ir até a venda comprar pão com algumas moedas que estão no potinho ao lado do cesto no móvel. Ele sai do barraco direto no beco da favela e vai andando até o bar próximo. Nos becos, rapazes encostados, fumando ou jogando ao lado de muito lixo espalhado pelo chão. Ele tem que atravessar um córrego, por uma ponte improvisada e olhando para baixo, quase não dá para ver a água porque tem muito lixo e mato acumulado nas margens.

Quando ele volta com os pães, alguns irmãos já estão acordados e ele senta com eles no degrau da entrada do barraco para comer. Eles brincam de ver quem consegue encontrar primeiro uma pipa voando e, enquanto isso, vão ouvindo os barulhos típicos da comunidade… o som muito alto com uma música mais gritada do que cantada no porta malas de um carro da esquina, a conversa em tom agressivo de um grupo de homens encostados no muro, um casal discutindo, um bebê chorando…

De repente, um barulho seco, bem alto. Eles já reconhecem esse som! A mãe grita para todos entrarem correndo e, lá de dentro do barraco, olhando pelas frestas da parede, eles podem ver alguns rapazes correndo, outros subindo nos telhados, fugindo de alguma coisa.

Quando o alvoroço passa, ele sai sozinho e encontra outros meninos. Todos vão correndo juntos, descalços, pelos becos, até a quadrinha. Na quadrinha, a criançada se aglomera e joga com uma bola murcha, sem nem lembrar do tiro e do core-corre de minutos antes. Alguns meninos chegam e começam a enrolar linha numa latinha de cerveja para poder empinar uma pipa.

Mas hoje é domingo. E mesmo assim, a tarde passa. Sem almoço, sem casa da vovó, sem ter uma palavra carinhosa ou motivadora de alguém, para chegar de noite e se enrolar de novo no único colchão com os seus irmãos.

Esses mundos diferentes que eu reconheci há muito tempo atrás me fazem acordar todo dia, domingo ou não, com uma enorme determinação de fazer alguma coisa, de construir algo de bom e de belo para cada um desses meninos e meninas, que moram em casas ou em barracos. Porque as diferenças vão continuar existindo mas sei que cada um de nós pode fazer a diferença nesses mundos.

(Inspirado no Mundo que a Irmã Angela Mary C.S.C me fez conhecer através do Projeto Sol)

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