Racismo Linguístico

Sou racista em desconstrução. Assumir isso é difícil mas faz parte do que me propus para fazer parte do movimento antirracista. Como forma de atuar de forma antirracista, estudar tem sido uma grande parte do meu esforço.

Comprei diversos livros e comecei pelo da Djamila (Pequeno Manual Antirracista).

O segundo que elegi, até pela minha afinidade com o tema, Racismo Linguístico – Gabriel Nascimento. A língua é a expressão de um povo. Reflete sua cultura e é a forma como a história é contada e passada através de gerações. Bom… a partir disso, fica fácil perceber a língua como fator de exclusão e racismo.

Eu não falo aqui minha língua

Eu falo a língua que me deram

Mas essa língua é minha agora

Da forma que eu sei falar

Parece óbvio – mas como sempre me lembra o Markus, o óbvio precisa ser dito – o conceito de raça só existe a partir do olhar dos brancos. Com um agravante, brancos que não reconhecem sua branquitude e tão pouco consideram ser branco como raça. A partir da dominação de um povo, ao longo da história, o dominador acaba com a cultura e com a língua do dominado. Isso é acentuado pelo desinteresse de proporcionar uma educação linguística decente que permite a integração deste grupo.

Dói, mas precisa ser dito. Ao longo dos séculos, a cultura africana e indígena foi aniquilada a partir de um conceito (raça) inventado por brancos que subjuga e discrimina a fim de manter seus privilégios. A língua é uma das bases que sustenta o racismo e ajuda a mantê-lo.

Nenhuma língua tem cor em si simplesmente porque as línguas não existem em si. Mas as línguas têm sujeitos por trás delas.

A língua – e as manifestações culturais – não existe por si só. Ela é reflexo do indivíduo, que por sua vez é reflexo dela. Essa é uma questão filosófica, amplamente discutida nos meios de comunicação e psicologia. Independente do Dilema de Tostines, a aniquilação de uma cultura e sua língua é um epistemicídio e um linguicídio tirando do indivíduo sua identidade. Falar a língua do opressor é a última esperança de pertencer e esquecer que um dia “ser a si mesmo” é inferior.

As questões culturais e linguísticas são de fundamental importância na construção do indivíduo – sua identidade, senso de pertencimento, autoestima e entendimento (e valorização) da sua história. Mais de 500 anos de racismo deixam marcas em diversos aspectos. Reconhecer nossa parte nele é o primeiro passo para mudar.

“Exu matou um pássaro ontem, com uma pedra que só jogou hoje”. – Ditado Iorubá

Imagem capa: #traduçãoqueimporta via Behance

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