Já comentei algumas vezes que rever o conceito de empatia foi um dos grandes marcos de 2020. Mergulhando nesse universo do lugar de fala de cada um e questionando o meu, uma live da Gabi Garcia – das tantas lives do ano – me marcou profundamente. Ela nos convida a olhar o papel político da empatia, ou seja, a responsabilidade de cada um de nós no caos instalado. E acreditem, ela faz isso com uma doçura sem tamanho que quando vemos ela já plantou esse incômodo no nosso coração.
A partir daí, tenho tentado estudar e entender o passado para poder atuar no presente e mudar o futuro. Tudo isso, dentro do meu privilégio e da minha responsabilidade do lugar que ocupo. Olhar a minha parte nas temáticas das tantas desigualdades que estão a minha volta.
Os dois temas que mais me tocaram foram a Violência contra a Mulher e o Racismo. A partir daí, tenho me aventurado em alguns podcasts. Já escrevi sobre o Praia dos Ossos – imperdível! – que conta sobre a morte da socialite Angela Diniz. Agora é a vez do Vidas Negras, ambos – coincidentemente – produzidos pela Radio Novelo.
Vidas Negras é conduzido pelo jornalista Tiago Rogero de uma forma leve mas provocativa. Passa por temas que permeiam nosso cotidiano e nos faz olhar pela perspectiva da população negra. Memórias de família e o resgate dos antepassados, feminismo negro, o direito à educação, personalidades importantes da nossa história, fé, construção estética e a beleza negra.
“Não conhecer nossa história e não honrar todos aqueles que fazem parte dela é negar a possibilidade de corrigir o rumo, ajustar o passo e ir em direção ao que sonhamos: um mundo melhor. Não entender a história nos torna escravos dela repetindo incansavelmente os erros que cometemos.”
Acesse aqui o artigo que escrevi sobre o documentário Amar.Elo.
Esse exercício de sair do nosso lugar e visitar o lugar do outro, está longe de nos permitir saber o que o outro sente ou vive. Mas nos dá repertório e referência, amplia nosso olhar e nos permite entender o lugar que ocupamos e nosso papel nessa relação.
A tal da empatia está muito em moda ultimamente, sendo confundida com compaixão, bondade ou simplesmente uma visão pretensiosa sobre nós mesmos. Mais do que definir empatia, ela passa pela experiência, pela escuta e pela observação.
A oportunidade de se colocar nesse lugar de expectador vulnerável, que se deixa afetar pela narrativa do outro. Mas se deixar afetar pelo outro traz um grande problema, é impossível ficar imune e não se posicionar. Talvez doa, talvez não seja um caminho fácil a partir daí. Só sei que vale cada segundo.
*Ilustração da capa: Angelina Bambina via Adobe Stock.