Qual é o seu hobby? Essa pergunta alugou um triplex na minha cabeça.
Eu não soube responder.
Eu nunca tinha pensado nisso.
E não, eu não tinha (tenho) um hobby.
Isso já faz alguns meses e eu empurrei o tema para debaixo do tapete como quem pensa nisso num momento mais calmo (aham, tá bom), mas há alguns dias a questão veio de novo à tona quando vi o repost de uma amiga que questionava exatamente isso: por que tantas mulheres não têm hobbies?
Comecei a refletir e pensar nas amigas mais próximas, até onde eu sei elas também não têm uma atividade em que possam se dedicar sem cobrança, por prazer, uma pausa na correria do dia a dia, um momento para estarem focadas em algo que não traz resultado mensurável, não bate metas e nem é voltado para uma outra pessoa.
Nosso tempo livre é nosso?
Percebo que nossa suposta “ausência de produtividade” precisa ser justificada (nem que seja para nós mesmas) o tempo todo, que o lazer é encaixado quando sobra tempo, e, vamos ser sinceras, ele sobra cada vez menos, e arrisco dizer que na maioria dos dias até falta.
Aqui podem entrar inúmeros dados e fatos sobre nossa cultura, a forma como fomos criadas, as lutas que ainda estamos travando. Um exemplo claro é que nós dedicamos em média 25 horas por semana aos afazeres domésticos e cuidados com a família, enquanto os homens dedicam em média 11 horas. Só daí já dá para perceber que saímos no “prejuízo” e talvez eles tenham mais tempo para ir jogar um futebol com os amigos.
Mas vendo esses dados eu comecei a pensar nos meus amigos e percebi que a grande parte deles também não tem hobbies. E o que poderia parecer uma questão de gênero virou uma questão de humanidade, ou seria melhor, do nosso modelo mental e da busca incessante por produtividade.
Quando parecer ocupado ainda é sinônimo de status, “perder” duas horas pintando em aquarela parece o que? Qual sua escolha entre ir tocar bateria ou assistir a aula sobre Power BI que vai te tornar mais produtivo, mesmo que ela ocorra às 21h de uma quinta-feira?
Lembro de uma conversa com uma amiga há alguns anos em que falávamos sobre isso e eu comentei que não tinha hobby porque não tinha tempo e nem dotes artísticos, em que ela pronta e sabiamente respondeu – não precisa ser perfeito, precisa te dar prazer e te trazer pro presente, só isso já basta.
Eu não tenho respostas, aliás o que mais tenho são perguntas, rss, mas fica aqui um convite para a gente – mais uma vez – tentar entender o peso e o equilíbrio que temos dado para os pratinhos que temos rodado, antes que quem acabe rodando sejamos nós mesmos.
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