Sabe aquela teoria que, depois que você conhece, faz com que várias peças do quebra-cabeça da vida se encaixem? Aquela que dá nome ao que você já intuía e, de repente, ajuda a organizar os pensamentos? Conhecimento que não passa apenas pela mente, mas pelo corpo e pela alma.
Conhecer a Teoria do Fruto de Carvalho, de James Hillman, foi um desses momentos transformadores para mim.
Tive meu primeiro contato com essa teoria há cerca de quatro anos, por meio da Adriana Friedmann, durante minha participação na pós-graduação A Vez e a Voz das Crianças. Este ano, ela me convidou para ser sua parceira em uma aula com o tema “Abrir-se à escuta de si e do mundo”. E adivinhem sobre o que eu falei? Sobre a Teoria do Fruto de Carvalho.
Aprofundar-me nesse conceito me fez olhar para minha própria história de uma nova forma. Foi como se eu finalmente enxergasse padrões e significados que sempre estiveram lá, mas que antes pareciam desconexos. Reconhecer os elementos dessa teoria na minha trajetória me trouxe a possibilidade de ressignificar muitas experiências – minhas e das pessoas ao meu redor.
Essa teoria está descrita no livro O Código do Ser: Uma Busca do Caráter e da Vocação Pessoal.
Aqui está um trecho nas palavras do próprio Hillman:
“Este livro segue um novo curso baseado numa ideia antiga. Cada pessoa entra neste mundo tendo sido chamada. A ideia vem de Platão, de seu Mito de Er, no final de sua obra mais conhecida, A República. Posso resumir a ideia.
A alma de cada um de nós recebe um daimon único antes de nascer, que escolhe uma imagem ou um padrão a ser vivido na Terra. Esse companheiro da alma, o daimon, nos guia aqui. Na chegada, porém, esquecemos tudo o que aconteceu e achamos que chegamos vazios a este mundo. O daimon lembra do que está em sua imagem e pertence a seu padrão, e, portanto, o seu daimon é o portador de seu destino.”
Você já sentiu um chamado na vida? Algo que, no começo, não fazia muito sentido, mas que, com o tempo, levou você exatamente ao lugar onde deveria estar?
Nem sempre é fácil ouvi-lo. Vivemos distraídos, cercados por ruídos que nos afastam de nós mesmos. Muitas vezes, os sinais estão ali, mas passam despercebidos. Para ouvir esse chamado, precisamos dizer sim – abrir espaço para a intuição, a imaginação e a curiosidade.
O sentimento de solidão, por exemplo, pode despertar uma nostalgia estranha, um desejo de estar em algum lugar que não sabemos qual é, ou de voltar para um lugar que não sabemos onde fica. Hoje, muitas vezes buscamos remédios para silenciar esses sentimentos e acabamos perdendo a oportunidade de senti-los plenamente. Mas, para Hillman, essas emoções são essenciais – oportunidades de nos reconectar com nosso chamado.
Muitas vezes, quem vê nossa imagem antes de nós mesmos é alguém da família, da escola, um professor atento. Ser é ser visto. Só existimos plenamente quando somos enxergados pelo outro.
No livro, Hillman também fala sobre como muitas crianças não são compreendidas na escola. Elas são encaixadas em rótulos e diagnósticos, mas, na verdade, muitos de seus comportamentos são tentativas do daimon de se expressar. Será que o que chamamos de “diferenças” não são, na verdade, o modo singular de cada um manifestar sua vocação no mundo?
Se aceitamos que temos um chamado, precisamos aceitar que o outro também tem o dele. E ele não precisa ser grandioso ou extraordinário aos olhos do mundo. Muitas vezes, acreditamos que nossa vocação deve estar ligada ao sucesso, à fama, a grandes feitos – e esquecemos que há uma força enorme naquilo que é simples.
Desde a infância, já começamos a trilhar esse caminho. O ser humano tem a capacidade de transformar desafios, dores e traumas na força necessária para seguir sua missão. Cada um nasce na família e no lugar onde precisa estar. Algo nos trouxe até aqui e nos protege para que possamos viver nossa jornada.
O mundo precisa de você. Você é único e fundamental.
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