Um domingo de inverno brasileiro, quase 30º C. No parque, comecei a jogar futebol com meu filho e, em bem pouco tempo, um menino se aproxima.
Perguntei se ele queria jogar e ele disse que sim. Então, logo se aproxima mais um. E outro. E mais outro. Sentei numa sombra e fiquei olhando a mágica que uma bola faz. De uma hora para outra, eram seis meninos que nunca tinham se visto compartilhando uma bola. Ninguém perguntou quem era o dono, nem o dono pediu privilégios. Não tinha cor de pele, jeito do cabelo, marca do tênis, time que torcia. A única coisa que importava era a bola que rolava.
Sem dizer uma palavra, eles já tinham se organizado. Sem campo, gol ou linha. Nem técnico ou juiz. Num gramado irregular, com escorregador, balanço e gangorra , uma vala de concreto, um bloco de cimento aparente e várias crianças passando, eles estavam divididos em times. A única coisa que importava era a bola que rolava.
Me percebi torcendo para o time do menino com a camiseta do Hulk – meu filho, claro! – mesmo que soubesse que não haveria gol ou ponto algum. As próprias crianças não estavam marcando pontos e pouco se interessavam se haveria um placar.
Daqui a pouco, sai um e mais outro e, de novo, sem parar a partida ou trocar uma palavra, se arrumaram num novo jogo de duplas. Porque afinal, o que importava era a bola que rolava.
O menino da camiseta do Hulk passou a jogar então com um menino com a camiseta do Neymar. Estranhas coincidências da vida, o menino Neymar – em menos de 10 minutos – sai para beber água e volta, sai para tirar o tênis e volta, sai para tirar a camiseta e volta enquanto o menino Hulk teve que dar conta dos dois adversários. Achei um ótimo viés da minha parte e decidi chamá-lo de Juan para seguir assistindo a dança dos meninos com a bola que rola.
Assim, foram mais 20 minutos até os outros meninos irem embora. Sem despedidas. Simplesmente saíram como chegaram, deixando a bola parada lá com seu dono, o menino Hulk que colocou a bola debaixo do braço, bebeu água e voltou jogar. Até que se aproximou uma outra criança e assim, a bola voltou a rolar.