Há algum tempo estamos percebendo uma preocupação das empresas em preparar suas lideranças para uma postura de maior inclusão, uma vez que esse público possui uma influência significativa na cultura organizacional. Como esse é um tema recente, sentimos a necessidade de pesquisar mais. Por isso, no final de 2020 elaboramos um questionário, em parceria com a Diversitera, nossa parceira Analytics para D&I, e convidamos pessoas de diversas empresas para responderem, dentre elas líderes, que puderam se autoavaliar, como também liderados, que puderam responder às perguntas levando em consideração algum líder atual ou passado com quem trabalharam.
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Nessa pesquisa buscamos explorar o que interfere na capacidade de um líder promover inclusão social dentro de 4 dimensões: traços de personalidade; competências; atitudes; e experiência de vida. Na primeira dimensão, consideramos 7 características: autenticidade, confiança, congruência, empatia, curiosidade, flexibilidade e resiliência.
Todas as características citadas acima apresentaram como padrão uma diferença de percepção entre líderes e liderados, onde a média de respostas dos líderes foi sempre superior à média das respostas dos liderados. Embora pudéssemos refletir sobre muitos aspectos, neste texto proponho conversar sobre uma característica em especial: a congruência, pois ela foi a característica pessoal com menor média na autoavaliação dos líderes, o que indica que eles percebem esse traço como o menos desenvolvido neles mesmos, assim como ela também foi a dimensão com menor média na avaliação de liderados, além de ter tido a maior diferença média de percepção entre os dois públicos.
A primeira coisa que precisamos entender é o conceito de congruência que usamos na pesquisa. Nos apoiamos em Carl Rogers, famoso psicoterapeuta americano, para chegar a seguinte definição: a capacidade de se comportar e tomar decisões de forma alinhada com o que sente, pensa e, principalmente, com o que você verbaliza e prega. Pode ser resumido na expressão “Walk the Talk”. Poderíamos ainda pensar nessa característica como uma transparência ou como uma postura de quem não possui interesses escondidos. E como isso se relaciona com a capacidade de ser inclusivo?
Quando um líder consegue ser congruente, primeiramente, ele favorece um sentimento de confiança com seus liderados, porque convenhamos que é mais fácil confiar em alguém que é congruente do que em alguém que é contraditório, confuso ou misterioso. Reparem que estou falando de confiar, não de gostar. Você pode não gostar do posicionamento de um líder, mas saber como ele pensa, de verdade, te faz confiar no que você enxerga. Segundo, que ao sermos congruentes, estamos convidando o outro a ser congruente também. Carl Rogers percebeu o efeito de sua transparência em seus estudos e atendimentos, que permitia a pessoa conhecer melhor e ser verdadeira com ele durante os atendimentos. Isso tem um efeito importante na relação, porque ser congruente significa se revelar para o outro, o que implica em conhecer mais e melhor a pessoa com quem nos relacionamos.
Na minha opinião, a real inclusão não pode vir de outro lugar que não desse conhecimento sobre o outro, e penso isso por dois motivos:
1. Excluindo raríssimas exceções, toda pessoa, ao conhecer mais profundamente alguém, se reconhecerá em algum nível ou com alguma dimensão de vida dessa pessoa. Não existe ninguém no mundo que seja absolutamente diferente de você em tudo, somos seres de uma mesma espécie. Essas semelhanças que vamos descobrindo com a transparência do outro promove, naturalmente, uma conexão com o outro e, por consequência, desejamos incluí-lo;
2. Uma relação entre pessoas com mais diferenças tende a gerar mais conflitos do que o normal. Então, pense comigo, se quanto mais você entende de matemática, mais chances você tem de resolver um problema de matemática, então, quanto mais entendemos de uma pessoa, mais chances temos de resolver os conflitos que surgirão na relação com esta pessoa.
Por tudo isso, gosto de pensar na congruência como a dupla perfeita para a empatia. Enquanto esta é um movimento de entender o outro, a primeira é um movimento de se revelar para o outro. Isso tornaria todas as relações, não apenas as entre líderes e liderados, mais inclusivas, mais humanas.