“A dor que não é transformada é transferida”.
Richard Rohr
Olá queridos leitores de Carlotas. Após um tempo sem escrever, indicarei um livro que em razão da triste tragédia de Brumadinho, me fez repensar muito sobre a necessidade de lidar com o trauma.
A autora divide a obra em sete capítulos. Primeiramente ela conceitua aqui o significado da palavra. Trauma é uma reação fisiológica a choques profundos sofridos ao longo da nossa existência, abalando nossa referência de mundo e despedaçando os significados da vida. A
Passagem por um evento traumático faz com que algumas perguntas surjam.
Por que eu?
Por que minha família?
Será que não poderia ter evitado?
Segundo a autora, juntamente com esses questionamentos, há também a deflagração da raiva, da impotência, incompreensão, necessidade de justiça. Na obra ela demonstra através de ciclos como o trauma afeta nossa vida de maneira fisiológica e emocional. O trauma também cria necessidades para as vítimas como a proteção, informação/resposta, empoderamento, restituição. Importante destacar aqui que quando esses ciclos não são devidamente trabalhados de maneira curativa, eles podem se tornar ciclos de vitimização e violência que podem se propagar por gerações.
Caminhando para o final dessa resenha, a autora se depara com as seguintes perguntas: Como romper esse ciclo? Como transformar a dor em cura?
O primeiro ponto seria o reconhecimento das nossas próprias histórias, a vivência do luto, do pesar e a nomeação dos medos.
Em segundo lugar é reconhecer que “o outro” possui uma história.
Questões como: “ Por que eu”? “Por que nós”? Geralmente não são possíveis de responder. Na maioria das vezes, provocam raiva e não buscam a raiz do problema. A autora entende que a pergunta deve ser reformulada para: “Por que eles”? “Por que fizeram isso”? “Por que fizeram isso conosco”?
Esse tipo de reflexão abre caminho para encontrarmos o centro do problema e também para reconhecer que o outro também possui uma história. Ela deixa claro que não é fácil e nem confortável olhar para história do outro, mas esse reconhecimento abre nossos olhos para o
contexto presente e a complexidade da vida.
Finalmente tentar a reconexão com nós mesmos e com as outras pessoas, a possibilidade do perdão e a busca de uma justiça que restaura, cura, responsabiliza o outro e que se importa em tentar corrigir, tanto quanto possível, o mal causado. Ela pontua sabiamente que o perdão não é esquecer ou abdicar da justiça, mas é se libertar da amargura. É se desvencilhar dos ciclos da vingança.
Carolyn Yoder dirige o programa STAR Strategies for Trauma Awareness and Resilience. É terapeuta de casais e da família. Possui mestrado em linguística e em aconselhamento psicológico.
Resenha do livro The little book of trauma healing.
Téitulo traduzido – A Cura do Trauma: quando a violência ataca e a segurança comunitária é ameaçada, de Carolyn Yoder
Tradução de Luis Bravo – São Paulo: Palas Athena, 2018.