O Dia Nacional da Educação Infantil é comemorado neste 25 de agosto em todo o país, foi instituído por lei em 2012 e é uma homenagem ao nascimento da fundadora da Pastoral da Criança, a médica Zilda Arns, que faleceu em um terremoto no Haiti em 2010 (informações retirada do MEC). Nessa última década ampliamos a concepção que vincula acolher e cuidar ao educar, pois na educação infantil estão associados diretamente ao processo educativo.
Pensar na educação infantil é refletir sobre alguns pontos como:
O que merece atenção nesse processo? De que forma podemos acolher a primeira infância? Como podemos pensar a criança enquanto protagonista da própria história? Em que momento a diversidade vira uma questão que precisa ser dialogada na educação infantil? Como estamos desenvolvendo a sensibilidade do olhar para esses pequenos seres que estão chegando?
As temáticas a serem abordadas no contexto da educação infantil são inúmeras. Quando pensamos neste contexto, podemos refletir sobre a formação dos profissionais que trabalham nas instituições escolares, sobre a qualidade e acesso do acolhimento à primeira infância ou mesmo sobre a importância de conhecermos e repensarmos as políticas públicas voltadas à proteção da infância. Em meio a tantas possibilidades, seguiremos nesse texto pensando em ampliar nosso olhar sobre a perspectiva das crianças, que muitas vezes, não são ouvidas e sentidas por serem crianças.
É na infância, durante o crescimento, que sentimos a vida por todos os nossos sentidos. Exatamente após o nascimento as crianças recém chegadas são imersas em um mundo repleto de estímulos, já que criamos muitas expectativas sobre essa chegada. Cada pequeno detalhe será sentido intensamente pelo neném, como o ar entrando pelas narinas e chegando ao pulmão. Você já imaginou como pode ser dolorido respirar pela primeira vez?! Pensar na claridade e todas as imagens que mal conseguimos compreender, a irritação da roupa e/ou da fralda que pode incomodar. Percebemos sons e ruídos ou a ausência deles em todos os ambientes, alguns parecidos com os que foram ouvidos no ventre e outros muito diferentes. Aos poucos reconhecemos o som da voz das pessoas que estavam bem pertinho no gestar. Os novos sabores e cheiros, aprendemos as sensações de calor, frio, sede, fome, saudade e tantas outras sensações que passam despercebidas no sentir dos adultos, pois essas sutilezas já se tornaram naturalizadas em nosso corpo. É com essas sensações e muitas outras que um neném vivencia suas primeiras aventuras e sua única forma de comunicar e reivindicar cuidado e acolhimento é através do choro.
A partir desse desenvolvimento, os bebês reconhecem o afeto pela maneira como são tratados e dessa forma, podem seguir se sentindo seguros (ou não) nesse espaço em que estão inserido; aprendem sobre seus limites; percebem o formato e o peso do próprio corpo; fazem inúmeras flexões para fortalecer os braços e conseguirem levantar pela primeira vez; distinguem ruídos e passam a perceber quando estão sendo solicitados; Respondem quando ouvem seu nome e a cada descoberta é um salto no desenvolvimento; tudo pode virar brincadeira!
Mas antes das brincadeiras, passamos por muitos desafios e exercícios, como conseguir segurar as coisas e levá-las a boca, rolar pelo chão até conseguir rolar, engatinhar, sentar e finalmente a liberdade de andar sozinho e sem ajuda. Esse momento é tão esperado pela criança, que muitas vezes ela não anda, só corre.
São nesses caminhos das brincadeiras, que podemos naturalizar o olhar das crianças para as diversidades e acolher o que me parece diferente. Temos a chance de ensinar desde os primeiros passos que uma criança é a diversidade de outra criança, pois somos seres plurais. Assim, fortalecemos a ponte entre a escola, a família e a comunidade, pois precisamos conhecer as culturas, dialogando com a diversidade que cada família e comunidade pode ofertar.
Nesse sentido, a infância é uma forma de manter viva os costumes, as tradições, a pluralidade cultural e as brincadeiras. Brincar é cultivar esse espaço de entrega de cada criança. É estar inteiro, presente, envolvido como se a brincadeira fosse seu espaço sagrado e perceber esse convite de escuta e partilha proposto pela criança no brincar. Desta maneira oportunizamos que a criança compreenda que a diversidade de características culturais, afetivas e físicas podem ser produzidas por essa ponte entre a descendência familiar, sua identidade e o território que estão inseridas.
Uma criança quando brinca, só precisa de uma outra criança para brincar. O que conta nesse caminho é a disponibilidade verdadeira para acessar o que podemos chamar de brincadeira. O espaço sagrado do brincar é reinventado a cada novo estímulo. Essa cumplicidade fortalece a empatia, autonomia e a curiosidade que eles e elas trazem, às vezes querem saber da história do outro, mas muitas vezes esse não é um fator importante.
Toda criança que faz essa travessia de chegada tem um olhar para todas as pessoas, pois naturalmente tem o olhar acolhedor para a diversidade. Entretanto, o caminho de perceber a vida ao lado dos adultos pode ser corrompido, e aí nesse momento alguns fatores podem contar na brincadeira, como: se a outra criança ouve, se tem os cabelos crespos, se é de outro país, se está em uma cadeira de rodas, se tem dois pais, se baba, se é obesa, se está com o corpo pintado, se é negra, se tem duas mães, se é criada pela avó e tias, se mora em casa de acolhimento. No olhar corrompido todas as diversidades irão contar.
Nesse dia tão especial, fica o nosso convite para que a cada passo no desenvolvimento, a cada brincadeira possamos perceber a criança entregue, brincando livremente com situações do seu cotidiano e com outras crianças. Cabe a cada um de nós se permitir fazer parte desse desenvolvimento e com o olhar sensível mediar algumas ações entre o eu, o outro e o nós. Auxiliar para que a criança perceba o “EU”, abrindo espaço para perceber os seus movimentos e a relação com seu corpo e com o corpo do outro(a), valorizando suas características físicas de maneira organizada, afetiva e acolhedora. Assim elas saberão acolher a diversidade na outra criança, já que na primeiríssima infância recebem tantos estímulos e descobertas. Por isso, manter o olhar naturalizado de cada uma para brincar de forma afetiva, fortalece para que possamos acolhê-las e assim esse caminho não se tornar muito cansativo e dolorido. A infância é rica, fértil e muito potente. Que o dia de hoje seja uma possibilidade de pensarmos caminhos que sigam acolhendo as crianças de forma integral, inclusiva e respeitosa.
*Imagem da capa: Paris Lopez via Unsplash.