A história de Theo e sua Professora Débora

Professora

O dia 2 de abril é o Dia Mundial da Sensibilização do Autismo e para trazer essa pauta por aqui, preparamos a história da Professora Débora e seu aluno Theo. Uma história que fala de inclusão, respeito e amor.

Débora Carvalho é pedagoga, atua como docente há 24 anos na educação infantil, na rede municipal de São Paulo. Atualmente ela trabalha na EMEI Almirante Sylvio de Magalhães Figueiredo (DRE Santo Amaro, zona sul de São Paulo). Influenciada por alguns familiares da área da educação, Débora escolheu trabalhar com educação infantil por ser a base do ensino.

Em 2022 foi surpreendida com 03 alunos com autismo na sua sala. No primeiro momento se sentiu insegura, pois nunca havia trabalhado com crianças neurodiversas. Porém, com apoio das famílias, em especial a família do Theo e da gestão da escola, Débora desenvolveu a inclusão com sucesso.

A seguir algumas perguntas respondidas pela Professora Débora.

Professora Débora

 

Tivemos a oportunidade de conhecer um pouco sobre a relação que você construiu com um estudante em especial, o Theo. Poderia nos contar um pouco mais? Quem é o Theo e como foi essa construção?

Theo é uma criança doce. Já no primeiro momento percebi que construímos uma relação de confiança imensa. Porém,  alguns questionamentos das outras crianças da sala começaram a surgir, como por exemplo no momento em que Theo queria ir ao  parque. Ele costumava ir para o parque quando as outras crianças não estavam. Elas trouxeram outros pontos como:

  • Por que ele pode ficar correndo pela sala e nós estamos sentados?
  • Por que o Theo não fala?
  • Por que o lanche dele é diferente do nosso?

 

Aqui percebi que precisava conversar com a sala. Expliquei para elas quem era o Theo. Passei um vídeo e as crianças logo identificaram naquele personagem alguns traços parecidos com os dele. Foi aí que expliquei que Theo era autista e isso fez com que as crianças olhassem de uma forma amorosa para ele. 

Entretanto, surgiu um outro problema, pois tudo que o Theo fazia, as outras crianças permitiam e era justificado pela sua deficiência. Percebi que não seria dessa forma que conseguiria incluí-lo. Meu objetivo era que a sala compreendesse que assim como nós, Theo também demonstrava raiva, tristeza, alegria, mas de uma forma diferente. O lanche dele era diferente, pois ele ainda estava experimentando alguns sabores e texturas. 

Além dessa explicação, trabalhei com alguns livros que tratavam de diferentes situações de pessoas com deficiência. Isso foi tão potente que no final do ano algumas famílias escreveram cartas para o Theo e sua família agradecendo essa convivência que tiveram com ele.

Theo era extremamente carinhoso e amava a natureza. A classe fez um projeto com plantio de girassóis e todos os dias quando saíamos para o parque, Theo corria para o jardim e passava a mão nas plantas sorrindo e depois ele ia brincar. Inclusão é enxergar a beleza na diferença e ter o respeito do outro para que ele permita que você entre no seu mundo.

Para você, enquanto educadora, o que é uma educação inclusiva de verdade?

Inclusão é a troca de aprendizagem e o respeito. É perceber a beleza nas diferenças. Theo me fez entender que para criar um vínculo com ele, eu não poderia tentar resgatá-lo e trazê-lo para o meu mundo. Muito pelo contrário, a verdadeira inclusão era ele se sentir confiante e confortável com a nossa convivência permitindo que nós entrássemos no mundo dele. No momento em que isso ocorreu, nós aprendemos muito com o Theo.

O que foi fundamental para a relação de vocês ter sido um caso de inclusão de sucesso?

A relação com os familiares do Theo, o apoio da gestão e a construção de uma relação de confiança na sala com ele foram pontos importantes para que essa história fosse um caso de inclusão de sucesso.

Quais aprendizados você gostaria de compartilhar com outros(as) educadores(as), famílias, estudantes e gestores(as) educacionais sobre essa experiência?

A convivência com o Theo trouxe aprendizagem para a vida e essa é a potência da educação. O Theo já não está mais nesta escola. O vínculo que criei com ele e sua mãe é tão forte que outro dia vieram me visitar. Entendo que tudo isso só foi possível, pois essa relação foi baseada em 03 pilares: a minha relação com a família do Theo, comigo mesma e com a escola.

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