– Ih, Almir, tem que comprar remédio pro cachorro…
– A Louise já comprou.
– Ufa. Eita! E a massa corrida? A gente esqueceu!
– A Louise já comprou.
– Que bom, assim a gente vai conseguir fazer a reforma no fim de semana.
– A Louise meio que já fez a reforma pra gente.
– Eita que menina resolvida!
Bobeou, a Louise tá fazendo. Com ela não tem deixa-pra-amanhã, daqui-a-pouco-eu-vejo ou fala-com-fulano-que-ele-faz. Ela é mão na massa e tem prazer nisso! Resolve os problemas da família, dos amigos e até daquela moça do 502 que ela não sabe o nome, mas sabe que precisa de uma muleta melhor.
Louise é do tipo que faz muito mais do que fala. Aliás, falar para ela é uma tortura. Falar em público é um Deus-nos-acuda, um sai-pra-lá-com-isso, um para-o-mundo-que-eu-quero-descer! Dá calafrio, tremedeira, suor, boca seca… quase desmaia. Prefere mil vezes construir uma casa de cinco quartos do que falar cinco minutos para uma plateia de cinco pessoas.
Mesmo com tantos afazeres, Louise está sempre elegante, roupa passada, cada detalhe do look é pensado para harmonizar e seu rosto sempre pintado pra ressaltar seu glamour. Tudo tem que ser simétrico, até os mililitros de perfume que são esguichados em cada pulso. Gente com roupa assimétrica dá nos nervos. E gente que usa uma meia de cada cor? Quase tão difícil de encarar quanto falar em público. A única pessoa que pode usar meias diferentes é a avó de Louise. Da avó ela aceita tanta transgressão, até porque avó é avó, né?
Agora, dá licença, vou acabar o texto, preciso liberar o computador. A Louise já está aqui do lado, querendo usar, porque precisa escrever um livro e se eu não sair vai ser um pega-pra-capar.