Acho que, a esse ponto, ninguém mais discute que estamos vivendo tempos complexos, certo? A vida nunca foi para amadores e a pandemia causada pelo vírus adicionou uma pitada generosa de complexidade na nossa realidade. Mas o que significa esse termo complexidade? Qual a diferença entre complexo e complicado? E o que tudo isso tem a ver com saúde emocional no trabalho?
Bom, para começar, gosto de diferenciar complexo de complicado. Um exemplo de algo complicado é um avião. São milhares de peças e componentes e tudo deve estar corretamente conectado para ele levantar voo. No entanto, se você perguntar a um engenheiro o que acontece se você tirar um fio elétrico ou apertar um determinado botão ele saberá a resposta. Sistemas complicados são aqueles que, mesmo com muitas partes, possuem uma relação de causa e efeito bastante previsível. Já os sistemas complexos são aqueles que não possuem essa relação tão clara, não dá para saber exatamente os reflexos de uma determinada ação, os problemas geralmente são diferentes e mesmo quando são parecidos as soluções podem ser bastante distintas, o passado nem sempre ajuda a resolver os problemas presentes. Redes sociais, Economia e Ecossistemas são exemplos de sistemas complexos.
Eis um exemplo de como sistemas complexos funcionam.
E como tudo isso se relaciona com a ideia de saúde emocional no trabalho?
Bem, para responder essa pergunta quero antes falar da Teoria dos Papéis. Esse construto desenvolvido por J. L. Moreno explica que papéis são todas as relações que exercemos na vida, como por exemplo, o papel de irmão, vizinho, amigo, gerente, aluno, pai, filho, marido, esportista… Cada pessoa possui uma gama única de papéis e para cada papel nosso temos um nível de proficiência e determinadas habilidades. A imagem abaixo ajuda a explicar.
Quanto maior julgo ser meu desempenho em um determinado papel, maior é a barra que o representa e mais atributos eu possuo nele (atento, ético, paciente, organizado…). Esses atributos podem estar presentes em um papel e não estar em outros. Posso ser paciente com meus filhos, mas não com meus amigos. O fato de eu possuir esse atributo em ao menos um papel é, no entanto, um facilitador para que eu o desenvolva em outros papéis. A teoria diz ainda que quanto mais papéis eu possuir maior será a probabilidade de eu ser uma pessoa saudável, espontânea e criativa*.
A importância da saúde emocional vem com uma última parte importante da teoria de Moreno. Ela explica que nossos papéis e os atributos que possuímos neles podem se tornar parcialmente ou totalmente indisponíveis de acordo com o nosso nível de tensão no momento. Quanto mais tensos estivermos em um determinado momento, menos recursos possuiremos naquele instante. E o que é, e como se cria essa tensão? Um dos fatores determinantes para esse estado é nossa saúde emocional. Se soubermos aceitar, acolher e observar nossas emoções, sentimentos e pensamentos, criaremos uma certa intimidade com nosso mundo interno e isso permitirá um manejo diferente dessas instâncias, evitando sobrecarga e sequestros emocionais. A linha de tensão tenderá a baixar mais rapidamente e assim conquistaremos novamente nossos recursos internos. Em resumo, a saúde emocional favorecerá nossa saúde física, espontaneidade e criatividade e por isso ela é tão importante nesse momento.
* Para J. L. Moreno, criador da Teoria dos Papéis e do Psicodrama, o binômio Espontaneidade-Criatividade é de fundamental importância. Ele chama de espontaneidade uma força que nos empurra na direção daquilo que é melhor para nós e para as nossas relações com os outros. A criatividade se faz necessária para que essa força consiga achar um caminho correto apesar dos desafios impostos pelas nossas próprias imperfeições e por fatores ambientais.
Diante das situações complexas que estamos vivendo, precisaremos dessa força que nos move na direção daquilo que faz bem para nós e para o ambiente. Se cada um pensar apenas em si e esquecer do entorno, aqueles que possuem menos recursos sofrerão mais. Sociedades também são sistemas complexos e o que afeta um acaba, cedo ou tarde, afetando a todos. Ao pensarmos apenas individualmente, corremos o risco de ver um efeito similar ao do parque de Yellowstone, só que com sentido contrário. O isolamento já deixou bastante claro o quanto somos codependentes, e achar uma solução para os desafios postos será mais fácil se estivermos conectados com essas forças vitais e inatas da espontaneidade e criatividade e elas, por sua vez, necessitam da nossa saúde emocional para se manifestar mais claramente.
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Foto do post por Natalya Letunova