Existem donzelas delicadas, discretas e educadas, daquelas que puxam a quantidade ideal de papo em elevador, nem mais nem menos. Mulheres elegantes, que sabem instintivamente as regras sociais que regem uma visita a um casal que acabou de ter filho e que dominam com maestria a etiqueta em um velório.
Essas mulheres existem. Amélia não é uma delas.
Amélia tem um carnaval constante dentro do corpo, é espalhafatosa, barulhenta, alegre, falastrona e piadista. Você a nota mesmo a cinco quilômetros. Você não convida a Amélia para jantar, você a convoca para ser sua dupla no truco.
Amélia é a maior inventora de expressões do hemisfério sul. “Ferveu o bigode” ela usa quando algo deu errado. “Tô com o louro piando” é dizer que está com fome. “Churrasco de varal” é algo feito sem cuidado, de qualquer jeito. “Tem pouca laranja pra muito inverno” é algo que ninguém entende direito o que quer dizer, mas ela fala com tanta confiança, que deve ser importante.
Como todo mundo, Amélia às vezes leva umas porradas da vida. Nesses dias ela fica mais quietinha, no seu canto, a sala fica até estranha com tanto silêncio. Mas em pouco tempo ela já está de volta ao seu normal, afinal de contas “macaco bronzeado nunca pediu Uber”.