Angélica Dass é uma artista, fotógrafa e ativista responsável pelo Humanae, um trabalho fotográfico incrível que faz a reflexão invulgarmente direta sobre a cor da pele, tentando documentar as verdadeiras cores da humanidade em vez das etiquetas falsas “branco”, “vermelho”, “preto” e “amarelo” associadas à raça.
O projeto surgiu em 2012, quando Angélica, trabalhando até então na área da moda majoritariamente e estudando em um Master de fotografia, percebeu um grande incômodo, pois as pessoas que ela fotografava nunca se pareciam com ela.
Então, começou a fotografar retratos de pessoas de diversos lugares do mundo e, utilizando uma amostra de 11 x 11 pixels tirada da ponta do nariz dessa pessoa, ela matizava no fundo do retrato com a paleta industrial Pantone®, o que, em sua neutralidade, põe em questão as contradições e estereótipos relacionados com a questão racial.
Esse projeto, que está em constante evolução, busca demonstrar que o que define o ser humano, é sua inescapável singularidade e, portanto, sua diversidade.
“Essa desculpa do preto e branco só é utilizada para separar a gente, não tem nenhuma lógica. Somos uma paleta gigantesca de cores que não são branco e negro.”
Nascida no Brasil, aos 6 anos de idade já se deparou com situações racistas e de descaso no ambiente escolar. Um colega de sala falou que não queria brincar com ela porque “ela tinha cor de merda”. A professora não fez absolutamente nada diante dessa situação. Angélica começou a refletir sobre o por que sua imagem e quem ela é carregavam tantos adjetivos negativos. Algo que era completamente inerente à ela, algo que não daria para mudar.
Ela percebeu que no Brasil (e no mundo) não havia uma preocupação com essa discussão e que seria muito simplista e pouco inteligente continuar repetindo essa maneira de pensar.
“A discriminação e o preconceito, na marior parte das vezes, ataca características inerentes: você não escolhe a cor da pele, o país que nasce, não escolhe nascer com uma incapacidade, não escolhe sua orientação sexual, não escolhe ser imigrante, você migra por uma necessidade emocional, pessoal… Vai sempre contra coisas que você não pode tirar de você. É uma relação cruel porque você não pode se livrar dessas características.”
Angélica não se cansa de citar Martin Luther King: “Quero que meus filhos sejam julgados pelo conteúdo do caráter e não pela cor da pele.” Ela acrescenta: “pela orientação sexual, pela nacionalidade, etc. Todos nós fazemos coisas boas e más, não quero ser julgada pelo meu físico e sim pelo que faço”.
No início, Humanae trouxe discussões sobre a cor da pele, mas atualmente é um projeto muito mais amplo. Mais do que rostos e cores, há quase 4.000 voluntários, retratos feitos em 20 países diferentes e 36 cidades ao redor do mundo. Trabalhou na sede da UNESCO, há participantes da lista da Forbes, das favelas do Rio de Janeiro, de refugiados na Espanha, de coletivo LGBT…todas essas capas dentro da Humanae.
HUMANAE NA EDUCAÇÃO
Em suas exposições, Angélica recebeu diversas mensagens de professores falando que gostaram do seu trabalho, com isso ela viu uma necessidade de incluir oficinas associadas às suas exposições para educadores e alunos. Seu trabalho começou a viralizar de uma maneira inédita.
Nas oficinas ela mostrava um lápis de cor bege e perguntava qual cor era aquela. As crianças respondiam “é cor da pele!”. Então ela mostrava as fotos da HUMANAE para essas crianças, que por sua vez entendiam que não há apenas 1 ou 2 cores de pele.
Outra dinâmica era mostrar duas cartolinas, uma preta e uma branca. Ela questionava: “Nos disseram que somos dessas cores, preto e branco, alguém aqui é dessa cor?” Todos respondiam um não bem intenso. “Então por que continuam falando dessa maneira para nosso tom de pele?”
Então ela entregava tintas nas cores vermelha, branca, preta e verde. Cada uma das crianças misturava essas cores até chegar no seu próprio tom de pele.
Esses desenhos eram expostos na própria escola, chocando seus pais com tanta riqueza de informação, respeito, diversidade e, além disso, as crianças saíam da oficina com um recipiente com seu próprio tom de pele, orgulhosas pela sua cor única.
Elas mesmas se tornam transmissoras desse conceito e empoderadas dessa mudança social.
Todos os retratos do projeto estão disponíveis no site, qualquer pessoa pode acessar. Qualquer educador pode fazer essa oficina com seus alunos.
“Trazer o diálogo de que o diferente não é errado é algo fundamental!“ Quanto mais cedo se tem acesso a essa informação, o pensamento será menos dominado pela ignorância e preconceito. Quando a criança vê alguém diferente dela e o adulto reprime um questionamento por questões sociais, ele acaba colocando aquela característica diferente em algo ruim ou errado. Ao contrário, quando deixamos a criança tocar, perguntar, ela vê além, ela vê que é um humano igual a ela com características diferentes.
Essa é a beleza da diversidade! Somos todos seres únicos. Respeitar essa questão básica inerente ao ser humano é o trabalho lindo que a Humanae vem fazendo há anos.
Saiba mais sobre esse projeto clicando aqui. Você vai se encantar!