Cérebro, hormônios e pensamento empático

A EMPATIA COMO UM HÁBITO

Segundo o filósofo australiano Roman Krznaric em uma entrevista cedida para Carlotas, a atitude empática pode ser desenvolvida como um hábito, por meio de estímulos constantes dos circuitos empáticos, circuitos esses que estão presentes desde nosso nascimento. É a mesma ideia de um músculo: todos nós nascemos com tal músculo, podemos fazer ele ficar forte e resistente com exercícios diários ou deixá-lo atrofiar se não for estimulado.

Nesse conceito lindo de possibilidade de desenvolvimento pessoal (poder treinar o pensamento empático pelo resto da vida), será que outros fatores poderiam auxiliar ou prejudicar nossa empatia?

FISIOLOGIA DA EMPATIA

Singer et al (2004) comprovaram que, de fato, a experiência empática tem bases neuronais, através de uso de imagens da atividade cerebral (obtidas por ressonância magnética) em experiências nas quais voluntárias recebiam uma estimulação de dor na mão e da comparação desses resultados com aqueles obtidos nas mesmas voluntárias quando seus esposos recebiam o estímulo doloroso, no mesmo aposento.

Observou-se que as regiões cerebrais que sinalizam a sensação subjetiva de dor (a aflição dolorosa) aumentavam sua atividade no cérebro das esposas como se o choque tivesse sido aplicado à mão delas mesmas.

Já nas regiões cerebrais, que sinalizam a dor física ‘objetiva’, só eram acionadas quando elas realmente recebiam o estímulo de dor. Conclui-se, então, que a atividade neural de estímulo empático não corresponde totalmente ao sistema de dor, relaciona-se apenas com os componentes emocionais da ativação neural da dor, não se observando estímulos nos componentes sensoriais. (Texto extraído do site CPDEC.)

ESTRESSE E EMPATIA, QUAL A RELAÇÃO?

Da mesma forma que os músculos podem ser exercitados ou atrofiados, o pensamento empático tem seus estímulos mentais e químicos, internos e externos. Cientistas explicam que existem cinco hormônios responsáveis pela criação das sensações e emoções, sendo os hormônios considerados da “felicidade”: endorfinas, dopamina, serotonina e oxitocina (ou ocitocina) e o popularmente conhecido como o hormônio do estresse, o cortisol.

Ao contrário do que muitos acreditam por ouvir falar apenas dos seus malefícios, o cortisol não é só um vilão. Ele é indispensável à sobrevivência humana e, por esse motivo, o organismo faz a sua secreção equilibrada.

No início das civilizações, o aumento do cortisol foi muito útil aos nossos antepassados, ele gerava um estado de alerta para fugir de inimigos ou animais selvagens, garantindo sua sobrevivência ao longo das eras e proporcionando a evolução da sociedade até os dias de hoje.

O problema que enfrentamos atualmente é que o cortisol conta com inúmeros estímulos externos o tempo inteiro. Situações no trânsito, cobranças no trabalho, exposição à violência, desemprego e, mais do que nunca, as consequências sociais, mentais e psicológicas da pandemia do coronavírus, interferem na produção desse hormônio, gerando um estado de estresse crônico, aumentando a frequência respiratória, cardíaca e da pressão arterial. É como se seu corpo estivesse em estado de fuga em grande parte do dia, ao invés de ser em momentos pontuais de sobrevivência, com isso desequilibra a saúde mental e física.

Sabendo que o pensamento empático gera estímulos neuronais, promove a sensação de gratidão e libera hormônios da felicidade como a ocitocina, exercitar essa habilidade pode trazer mais saúde e ajudar a diminuir o estresse (além de deixar seu mundo mais bonito!). Em contrapartida, se convivemos com alguém que está nitidamente estressado por algum motivo, o exercício do pensamento empático está na compreensão de que aquela pessoa está com dificuldades emocionais, psicológicas e bioquímicas de estabilizar seu humor. Ajuda a compreender o outro, mais uma vez.

EMPATIA E ALIMENTAÇÃO, EXISTE RELAÇÃO?

Acredito que nossa alimentação é como se fosse um combustível para um carro: não importa se o motor é potente e de última geração, se colocar combustível de má qualidade, uma hora esse motor vai pifar porque o que dá o suprimento da máquina é tóxico para ela. Considerando que abastecemos um carro algumas vezes por mês, imagina os efeitos de uma alimentação ruim no nosso corpo por anos?

Os alimentos ruins para nossa saúde são bem divulgados atualmente, mas vale relembrar os principais e seus aditivos: açúcares e farinhas refinadas, alimentos processados, industrializados, conservantes, agrotóxicos e álcool.

Esses exemplos citados geram uma inflação no nosso corpo, sobrecarregando órgãos e atrapalhando o equilíbrio sistêmico. Isso pode ser um estímulo externo que atrapalha a produção de hormônios da felicidade citados acima e, com isso, diminuir a sensação prazerosa que o pensamento empático pode trazer.

Ainda não existem estudos conclusivos relacionando a alimentação com a atitude empática, mas se já tem estudos comprovando que a alimentação influencia diretamente no cérebro e nos hormônios, por que não tentar incluir frutas, legumes, verduras e alimentos mais naturais possíveis para potencializar seu exercício diário de pensamentos bons, inclusive do pensamento empático?

Aquele chocolate industrializado que vai aliviar o estresse do dia, cheio de açúcares e condições duvidosas de trabalho para produzi-lo, pode ter alternativas refrescantes e você ainda estimula toda uma cadeia de processos mais justos e sem destruição ambiental, sem destruição mental, sem destruição corpórea.

Vale a pena, não?

Fontes: Zuardi, Antonio Waldo. Fisiologia do estresse e sua influência na saúde.rnp. fmrp. usp. br/~ psicmed/doc/Fisiologia% 20do% 20estresse. pdf>. Acesso em, v. 23, 2014. / https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/14976305/ / https://cpdec.com.br/ / https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/18161/1/master_fabio_silva_ferreira.pdf*

*Imagem da capa: Jesse Orrico via Unsplash.

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