“Todos nós queremos que nossos filhos sejam felizes. E felicidade é algo que, supostamente, os dinamarqueses entendem bem através de pesquisas que constantemente mostram que os residentes da Dinamarca são os mais felizes do mundo. Então, não é grande surpresa que o artigo em que postamos “dicas de pais dinarmaqueses” foi um dos mais lidos do Jornal. Por causa de toda essa popularidade, decidimos mergulhar fundo em uma das maiores filosofias enraizadas da cultura dinamarquesa, com os autores do livro “O jeito dinamarquês de ser pai”, a escritora Jessica Alexander e o psicoterapeuta Iben Sandahl liderando a conversa.
No mês passado discutimos o poder do criação baseada na brincadeira, e dessa vez conversamos com os autores sobre a crença dinamarquesa da importância de ensinar o conceito de empatia as crianças.”
Nos conte como você define empatia.
“Empatia é a habilidade de reconhecer as emoções de outra pessoa, ou mais, simplesmente conseguir caminhar uma milha nos sapatos de outra pessoa. A América é muito mais baseado no indivíduo. Para nós é normal ter como objetivo ser o campeão e se esforçar para ser o melhor. É isso o que significa sucesso e eu acredito que não questionamos isso. É parte da cultura. Ganhar significa muito. Talvez a maior diferença entre a Dinamarca e a América é que dinamarqueses valorizam o trabalho em equipe muito mais do que ser uma estrela. E com isso, eles ativamente ensinam empatia”.
Como que a prática da empatia se conecta com a felicidade de um modo geral?
“As últimas pesquisas neurológicas mostram que humanos tem mais felicidade em cooperar com outros do que o ganhar isolado. Cientistas descobriram o cérebro social, que mostra que somos todos conduzidos por algo que vai além de interesse próprio: Somos movidos em direção à conexão social. Relações com afeto é um dos maiores precessores da felicidade, bem mais que dinheiro. Era comum acreditar que humanos eram egoístas por natureza, mas isso simplesmente não é verdade. Somos todos interligados pela empatia, desde que nascemos. Só precisamos aprender a nos interligar para que funcione. Sermos capazes de confiar e entender outros é a chave para sermos mais felizes. E isso pode ser ensinado às crianças.”
Como os pais dinamarqueses ensinam isso?
“Os pais dinamarqueses ensinam empatia nas escolas, o que é bem especial. Empatia é um conceito tão amplo e e ensinado de diferentes maneiras em diferentes faixas etárias. Três exemplos, seriam a linguagem escolhida, deixar as crianças criarem regras, e a leitura de uma grande gama de histórias”
Nos conte mais sobre o primeiro conceito: Usar a linguagem escolhida para ensinar empatia
“A primeira lição crucial para lembrar quando ensinamos empatia é que nossas crianças estão se espelhando em nós. A linguagem que usamos é muito importante. Como você descreve os outros? Você está entendendo ou julgando? Tolerando ou envergonhando? Todos esses são comportamentos que as crianças estão copiando. Falando mal de alguém na frente das crianças e dizendo coisas como Ela é má, Ele é egoísta, Ela é tão irritante, não é uma linguagem empática porque não reconhece as emoções por trás das ações – é só um rótulo. Na Dinamarca, vocês quase nunca ouve pais falando negativamente sobre outras crianças em frente dos seus filhos. Eles sempre procuram maneiras de ajudar seus filhos a entenderem o comportamento de outras crianças sem o rótulo negativo. Se você lembrar que todas as crianças são fundamentalmente boas e existe uma razão por trás de todos os comportamentos, ajuda-nos a naturalmente achar o bom em cada um. Isso nos faz sentir melhor porque nos ensina ressignificação- outro conceito dinamarquês que melhora a felicidade. Podemos ajudar nossos filhos a acharem razões por trás dos rótulos. “Ele é irritante? Você acha que talvez ele esteja com fome? Ou será que está cansado porque não dormiu bem? Você sabe como é estar com fome ou com sono, não é?” “Ela é má? Me parece que ela teve um dia ruim na escola. Outro dia você me disse que ela é legal. Na verdade ela é legal, né?. Ajudando as crianças a entenderem os sentimentos por trás do comportamento e os guiando para uma conclusão mais gentil, é ensinar empatia. A empatia opera sobre o mesmo caminho neural que o perdão e fomenta mais confiança, cooperação e um melhor relacionamento entre irmãos, se você tem mais de um filho. E não se esqueça que os pais têm que ter empatia para com si mesmos, às vezes, também. Ser pai e mãe é difícil e nem sempre acertamos e isso é ok. Termos compreensão e compaixão por nós mesmos nos torna melhores em perdoar nossos filhos e outros.”
Explico o conceito de criar as próprias regras.
“Antes de conseguirmos ser bons em reconhecer as emoções dos outros, precisamos conseguir entender nossas próprias emoções. Pais, às vezes, falam para as crianças como eles acham que elas devem ou não se sentir. Eles se sobrepõe a elas. Se elas estão tristes bravas, com fome, com frio ou chateadas, alguns pais dizem: não, você não está, não fica triste, você não tem razão por estar brava, você deve estar com fome, come!. Dizendo para crianças como elas devem se sentir não é o mesmo que dizer que ela vai auto-regular seus sentimentos. Como pais, precisamos dar aos nossos filhos segurança para que eles possam conhecer os limites de seus sentimentos. Isso cria um forte senso de si, o que, mais pra frente, é fundamental para a auto-estima. Quando elas forem mais velhas, terão menos medo de dizer “não” quando os seus limites forem empurrados, porque eles vão confiar em si mesmos para tomar a decisão certa com base no que eles sentem. Essa é uma lição tão importante para ensinar as crianças. Podemos ajudá-los com o uso da linguagem, mas precisamos confiar neles para que eles possam confiar em si mesmos. Lembre-se, não existe boas ou más emoções. Apenas emoções.”
Finalmente, que tipo de histórias podemos ler para as nossas crianças para ajudar no ensino da empatia?
“Leia para crianças todos os tipos de histórias, não apenas as felizes. Falando sobre emoções difíceis em livros pode ser um jeito fantástico de construir empatia. Muitas livros infantis dinamarqueses são chocantes para os padrões americanos, por causa dos tópicos que eles abordam, mas estudos comprovam que ler sobre todas as emoções aumenta a habilidade da criança de ter empatia. Na história original da Pequena Sereia, que é dinamarquesa, ela não casa com o príncipe no final, mas sim, morre de tristeza e vira espuma no oceano. Isso da margem para um discussão bem diferente! É incrível do quão aberto as crianças são. Eles querem conversar sobre todos os tópicos. Parece ser mais difícil para adultos do que para crianças. Lembre-se, eles espelham o nosso desconforto. Se conversamos sobre os altos e baixos da vida de uma maneira não dramática, nossos filhos serão mais resilientes no futuro. Livros são uma ótima maneira de ensinar empatia.”
Para mais conselhos de pais dinamarqueses, leia o artigo original aqui, a continuação do Poder de Brincar, e um pouco mais do livro O Jeito Dinamarquês de Ser Pai: Um Guia para Criar as Crianças mais Felizes do Mundo.