Conflitos Sociais que resultaram na primeira escola para Surdos e reconhecimento da língua de sinais

Para melhor analisar e compreender a história da educação de surdos, é necessário considerar as suas transformações incessantemente apesar de diversos impactos relevantes. A história, por si só já é quase uma sequência de transformações, crises e inquietações, mas também a origem de oportunidades (STROBEL, 2009). O exercício da cidadania acontece através do envolvimento racional e influente de todos os cidadãos. É preciso que se desenvolva a capacidade de visualizar os diferentes âmbitos sociais de modo crítico, reconhecendo as diferenças históricas e culturais constituídas ao longo do processo histórico (SILVA, 2006). A primeira escola para surdos, se iniciou em Paris na França, foi uma carta que desencadeou este processo e deu início a este grande marco na educação de surdos. Um dos controladores gerais na França, em 1764, dirigiu aos intendentes o seguinte conselho:

[…] é preciso que a jurisdição de prebostes prenda poucos vagabundos e mendigos ao mesmo tempo; talvez até suas diligências devam voltar-se principalmente para “mendigos inválidos” mais do que para os válidos porque, como os primeiros não têm o recurso de poder trabalhar, é mais difícil impedi-los de mendigar e porque os mendigos válidos, que verão prender até mesmo os inválidos, ficarão muito mais apavorados e muito mais depressa se determinarão a arrumar uma profissão.( CASTEL,1998,p140).

Viabilizando uma mudança positiva, perante este cenário caótico abade L’Epée o mesmo ouvinte deu início a processos significativos nesta área, nascendo assim em 1760, à primeira Escola Pública para Surdos em Paris, que provavelmente instigado pelas tempestades que dizimavam naquela época a sociedade francesa. Este fato, ligado à história das instituições de surdos, foi um acontecimento decisivo no processo de elaboração e de ampliação da organização educacional, política e social dos surdos no continente europeu e em vários países do continente americano (QUADROS, 2006).

A França, no século XVIII, se encontrava em grandes conflitos internos. Era um autêntico “tonel de pólvora”, segundo Quadros (2006, p. 20): Os levantes eram permanentes e a pequena burguesia em expansão, apoiada pelos camponeses e artesãos, não admitiam mais as benesses feudais que ainda predominavam na monarquia francesa, principalmente no Primeiro e Segundo Estado. Outros grupos como os camponeses e artesãos acabaram funcionando como exército de reserva e da força de trabalho, principalmente em função do grande deslocamento dos indivíduos que moravam nos campos e nas oficinas artesanais para as grandes fábricas nas cidades urbanas. Este aglomerado de trabalhadores nas indústrias se transformou na mercadoria básica ao modo capitalista de produção e a força de trabalho.Foram uma grande referência para o início e organização das comunidades surdas (QUADROS, 2006).
O modo como ocorreram essas transformações sociais permitiu a organização política, social e educacional dos surdos como relata Manacorda (1999, p. 249), na segunda metade do século XVIII, “[…] a nova produção de fábrica gera o espaço para o surgimento da moderna instituição escolar pública. Fábrica e escola nascem juntas”. A educação, diante das modernas relações sociais determinadas pelo âmbito produtivo, passou a compreender o interesse da burguesia em avançar no processo educacional para as artes mecânicas.

A especulação e a prática constituem a principal diferença que distingue as ciências das artes. Em geral, pode-se dar o nome de arte a qualquer sistema de conhecimentos que é possível traduzir em regras […] Mas assim como existem regras para as operações da inteligência ou a alma, assim também existem regras para as operações do corpo […] Daí a distinção das artes liberais e mecânicas e a superioridade que se dá às primeiras sobre as segundas […] superioridade que, sem dúvida, é injusta por muitos motivos (D’ALEMBERT apud MANACORDA, 1999, p. 240).

Os surdos eram parte do Terceiro Estado, junto com os camponeses e os artesãos. Eram sujeitos às relações sociais vigentes e também queriam uma condição melhor de vida. Desejavam “ser alguma coisa”, como disse o abade Sievès (MARX, 1996, p. 378 apud QUADROS, 2006, p. 22):

Partícipes desse cenário revolucionário, com transformações profundas no tecido social, juntam-se ao abade L’Epée, talvez por saberem, […] que “a força do homem isolado é mínima, mas a junção dessas forças mínimas gera uma força total maior do que a soma das forças reunidas” e, nessa junção de forças, criam a primeira Escola Pública para Surdos em Paris.

No convívio diário com os surdos, abade L’Epée <span style=”background-color: #333399;”>percebeu que os gestos cumpriam funções iguais das línguas faladas, e possibilitavam uma comunicação ativa entre eles.</span> Foi a partir desta observação que <span style=”background-color: #333399;”>se deu o início do processo de reconhecimento da língua de sinais,</span>  não apenas nas exposições orais, mas em exercícios metodológicos desenvolvido em Paris, na primeira Escola Pública para Surdos (QUADROS, 2006).

Referências:

MANACORDA, Mario Alighiero. A educação nos setecentos. 7.ed. São Paulo: Cortez, 1999 QUADROS, Ronice Müller de. Estudos surdos I. Petrópolis, RJ: Arara Azul, 2006. Disponível em: <http://editora-arara-azul.com.br/ParteA.pdf>. Acesso em: 20 de junho de 2016. SILVA, Angélica. O aluno surdo na escola regular: imagem e ação do professor. Disponível em: <http:///www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000276979>.

 

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