Não era todo dia mas, às vezes, Cristina acordava com um grilo na cabeça. Não importava o que acontecia, o pequeno inseto não desgrudava dela. Levantava, trocava de roupa, preparava o café e o danado lá, atrás da sua orelha. Ia trabalhar, fazia reunião, até se distraía. Mas, ao menor descuido, ela ouvia baixinho um cricricri que não a deixava em paz.
Tinha dias que o grilo ia embora sozinho. Outros, ficava hospedado em cima dela. O difícil mesmo, era quando ele resolvia provocar e chamava outros grilos que acabavam povoando toda a cabeça da Cristina. E, por mais que tentasse, Cristina era assim, sempre dava mais atenção para o grilo do que ele de fato merecia.
Era olhar pra ela e ver sua testa enrugada para saber que o tal do grilo já estava ali. Cristina tinha tentado de tudo, até simpatia! Mas nada dava resultado. O grilo podia sumir por uns tempos, só que sob qualquer pretexto, lá vinha ele fazer morada na Cristina. A conta para pagar, a roupa para levar na costureira, o trânsito, a calça que não serve, a falta de água… O grilo se divertia muito ao ver Cristina franzir a testa e começar a montar um plano de combate. Quanto mais ela trazia soluções rápidas para se livrar do grilo, mais ele se motivava a achar alguma coisa para grudar no pensamento dela.
Foi então que o grilo resolveu apelar. Ele passou a trazer mais um ou dois amigos para não dar tempo da Cristina ter um minuto sequer de sossego. Assim, começaram uma guerra: Cristina, de um lado, correndo atrás do grilo do tempo, do grilo dos compromissos e do grilo da dieta, e os grilos, por sua vez, enchendo cabeça da pobre de problemas. Era tanto grilo, que alguns nem existiam de fato. Mas ainda assim, Cristina se preocupava. A batalha foi crescendo, com os grilos atacando e Cristina reagindo.
Algum tempo de briga e Cristina se tornou especialista em grilos. Ela conseguia ver um chegando de longe e, rapidamente, já tinha uma solução. Ela ficou tão boa nisso, que as pessoas traziam para ela seus próprios grilos para ela dar um fim. Quem diria… Cristina era a melhor conselheira que alguém podia querer, não tinha grilo que ficasse por perto.
Hoje, Cristina não cria mais grilos. Pelo menos não na cabeça. Agora, ela atrai a grilaiada toda de propósito para o jardim do parque nacional. Lá, eles passeiam por entre os visitantes que, junto com a Cristina, aprenderam que o grilo é o símbolo da sorte e pode nos ajudar a ver as coisas de uma outra maneira e buscar novas alternativas.
E sabe aquele primeiro grilo da Cristina? Mora no quintal da casa dela e coordena todo o cadastramento dos grilos do parque nacional. Coincidência ou não, foi uma tremenda sorte a Cristina arranjar um ajudante tão qualificado.