Defeito não existe, mas perfeição sim.

Ilustração de uma mulher de olhos fechados, atras de sua cabeça tem uma escada e um homem em um dos degraus também de olhos fechados

Defeito não existe, mas perfeição sim. Se pararmos para pensar, logo veremos que defeito é algo que só existe em relação. Em relação a um ideal, uma idealização, ou ao que comumente chamamos de perfeição. Por isso, celular dá defeito e máquina de lavar roupas também. Foram criados e programados para um fim, para um jeito “certo” de ser ou funcionar. Mas nós, não.

Quando entendemos isso, quando compreendemos que não existem modelos universais a serem seguidos(1), o conceito de defeito, ou falta, ou falha, para de existir(2)

Porque nesse caso todos os modos de ser são possíveis, simplesmente porque são e não porque são em comparação a um ideal.

Por esse ponto de vista, de comparação a uma idealização, que é algo inalcançável, seremos sempre devedores, falhados(3).

Pelo outro, porém, seremos tudo o que podemos ser. Seremos perfeitos, mas pela perspectiva de Espinosa(4).

Para ele, perfeição e realidade são a mesma coisa porque todas as coisas estão, o tempo todo, dando seu máximo, sua máxima potência. A perfeição, nesse sentido, não tem a ver com felicidade ou bem-estar, mas com a expressão do que somos. Essa perspectiva nos conduz a um caminho menos comparativo e cruel por meio do qual o valor de alguém não se dá em relação a um outro, mas em relação a si mesmo e suas possibilidades.

Você pode estar se perguntando: se tudo e todos são perfeitos, isto significa que não temos mais aonde ir?

Se compreendemos perfeição como realidade e não como fim da linha, ou chegada, realmente não temos aonde ir, porque já estamos. Mas isto não significa que não possamos ser mais perfeitos a cada dia, ou melhor, isto não significa que a realidade não possa ser ainda melhor, ou mais perfeita, amanhã.

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Notas:

(1) E não estou dizendo que as pessoas não possam encontrar modelos, admirar pessoas e ter em que se inspirar, estou falando de modelos universais que prescrevem fins, finalidade, ao ser humano e também à natureza, e provocam sofrimento com isso.

(2) E nós passamos a respeitar e paramos de julgar.

(3) E isso não carrega traços de algumas tradições religiosas?

(4) Baruch Espinosa (1632 – 1677), filósofo holandês.

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