Hoje, 23 de agosto, é o Dia Internacional para Relembrar o Tráfico de Escravos e sua Abolição. Esta data, estabelecida pela UNESCO, não é apenas um marco histórico, mas um convite profundo para refletirmos sobre as raízes da nossa sociedade e as cicatrizes que ainda carregamos.
Nenhum outro país no mundo viveu a escravidão na magnitude que o Brasil experimentou.
Cerca de 4,9 milhões de africanos foram trazidos para cá como escravizados, representando 45% de toda a população que foi forçada a sair de sua terra natal. Durante a travessia, aproximadamente 670 mil pessoas morreram, um número tão alarmante quanto doloroso.
O caminho até o fim do Tráfico de Escravos e sua a abolição no Brasil foi marcado por lutas, promessas não cumpridas e muita resistência.
Em 1831, sob pressão da Inglaterra, foi aprovada a Lei Feijó, que supostamente proibia o tráfico negreiro. No entanto, essa lei existiu mais como propaganda do que como uma medida real; o tráfico continuou, e até mesmo aumentou, sem fiscalização ou interesse em acabar com ele.
Nesse cenário, figuras como Luís Gama se destacaram.
Com sua advocacia incansável, Gama e outros abolicionistas argumentaram que os africanos trazidos ao Brasil após 1831 haviam sido sequestrados, pois o tráfico estava proibido. Esses indivíduos, portanto, deveriam ser libertados imediatamente.
Gama expressou com firmeza: “As vozes dos abolicionistas têm posto em relevo um fato altamente criminoso e assaz defendido pelas nossas indignas autoridades. A maior parte dos escravos africanos (…) foram importados depois da lei proibitiva do tráfico promulgada em 1831.”
Somente em 1850, com a Lei Eusébio de Queiroz, o Brasil deu o primeiro passo concreto rumo à abolição, proibindo definitivamente o tráfico negreiro intercontinental.
Ainda assim, a escravidão permaneceu uma realidade até 1888, quando a Lei Áurea foi finalmente assinada. Mas essa liberdade veio sem nenhum suporte, sem políticas de emprego, acesso à terra ou educação para as pessoas libertadas. A abolição, na verdade, foi o início de uma nova luta, marcada pela exclusão e precariedade, uma realidade que ainda ecoa nos dias de hoje.
Este texto oferece apenas uma visão superficial de um processo extremamente cruel, no qual nossos ancestrais foram forçados a lutar e resistir.
O Dia Internacional para Relembrar o Tráfico de Escravos e sua Abolição nos convida a refletir sobre nossa história, nossa herança e o compromisso de honrar aqueles que vieram antes de nós. A busca por equidade racial não é apenas uma luta do passado, mas uma responsabilidade contínua no presente e no futuro.
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