Sempre que participamos de uma entrevista sobre alguns dos temas que trabalhamos, acabamos revisando e criando textos para poder traduzir o que é Carlotas e o que fazemos. Esse é uns dos exercícios que gosto de fazer: revisitar nossas certezas e escolhas.
Este mês, participamos de uma entrevista sobre empatia no caderno Viva Bem do UOL.
De cara a pergunta era sobre o que é ser uma empresa com propósito social. Sabemos que hoje, não existe no Brasil, uma definição que classifique uma organização como “empresa com propósito social”. Para Carlotas, esse conceito, nasceu do d.n.a da empresa: poder espalhar respeito, diversidade e empatia com o objetivo de desenvolver relações humanas mais harmoniosas. No nosso caso, não apenas lutamos e defendemos isso, por meio de oficinas e programas em empresas e escolas, mas investimos 10% do nosso faturamento bruto na causa. Esse investimento é o Programa ExploreCarlotas, que objetiva levar gratuitamente o diálogo e o desenvolvimento das competências socioemocionais para instituições de educação e assistências públicas.
Mesmo as demais frentes que atuamos, acreditamos que cada pessoa que participa de uma oficina ou workshop, cada um que conseguimos interagir é um universo que podemos impactar e transformar. Seja nas empresas e organizações, nas escolas e instituições de educação ou assistência.
Outro ponto que conversamos e que não raro é motivo de curiosidade aqui é como desenvolvemos os projetos para tantos públicos diferentes. O trabalho de Carlotas é baseado em uma abordagem que traz aspectos da psicologia, neurociência, arte e ludicidade. Partimos de experiências ou disparadores lúdicos para estabelecer o tema central, sempre construindo a partir das referências e repertório do grupo. Com isso, adaptamos as temáticas para o público específico seja educadores, crianças ou adultos em ambiente corporativo. O ponto central é criar conexão com o grupo e fazer algo que faça sentido para eles. Mesmo agora, usando as plataformas digitais, conseguimos por meio da abordagem de Carlotas criar essa ponte de interesse e construir juntos algo que tenha real significado. E o mais bacana é que cada grupo é único, trazendo experiências e reflexões muito particulares.
EMPATIA COMO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DAS RELAÇÕES:
Primeiro ponto importante em relação à empatia é que ela não é uma linha de chegada, e sim, um processo vivo e em constante transformação. É difícil definir uma pessoa como empática ou não empática, seria mais assertivo falarmos sobre níveis de empatia, ou atitudes empáticas. Praticar a empatia exige uma série de habilidades e competências socioemocionais, como por exemplo, a capacidade imaginativa de tentar se colocar no lugar de outra pessoa. Falamos que é um exercício imaginativo porque estar na pele do outro, de fato, é impossível. Uma pessoa que busca praticar a empatia está constantemente se questionando sobre as vivências subjetivas de outros seres humanos, buscando compreender suas dores, necessidades emocionais e também o que lhe traz prazer e satisfação. Podemos definir a empatia como a tentativa de imaginar o que o outro está sentindo. Essa prática é mais fácil com aqueles que são parecidos com a gente, consequentemente, temos mais dificuldade de nos conectarmos com a realidade de pessoas de outras culturas, religiões, orientação sexual, situações socioeconômicas, entre outras variáveis.
EMPATIA PODE E DEVE SER TREINADA:
O nível de maturidade e sofisticação cognitiva e emocional para cada fase do desenvolvimento humano é diferente, portanto, a manifestação de atitudes empáticas também é. Muitos estudos comprovam que nascemos com um potencial empático muito significativo, sendo este um dos fatores que definem nossos vínculos sociais e afetivos. Se os ambientes em que a criança se desenvolver forem favoráveis (inclusivos, seguros emocionalmente e abertos à diversidade), tudo indica que ela terá atitudes empáticas nas relações de convivência. O desafio é que desde muito jovens estamos expostos a ambientes que classificam, julgam e definem pessoas a partir de critérios que nos desumanizam, e como bom aprendizes, incorporamos essas classificações. De forma muito genérica, podemos dizer que as crianças são mais abertas ao “diferente”, enquanto os adultos tendem a se aproximar e demonstrar interesse com quem eles mais se identificam. Praticar a empatia vai muito além de compreendê-la cognitivamente, nesse sentido, adultos talvez tenham mais facilidade para nomear os significados e definições do que é empatia, enquanto as crianças estão mais disponíveis a fazer os saltos imaginativos no mundo daqueles que a cercam. Trabalhar a empatia com adultos passa por uma desconstrução, e em todas fases da vida, desenvolver essa competência passa pela educação emocional e social.
AS EMOÇÕES SÃO UMA PONTE DE CONEXÃO EMPÁTICA:
Empatia é uma competência socioemocional composta por diversas habilidades como escuta, atenção, comunicação, autoconhecimento, identificação e reconhecimento das emoções, entre outras. Não conseguimos nomear os sentimentos associados a empatia, pois cada relação que estabelecemos e cada situação de vida enfrentada desperta em nós emoções diferentes. Por exemplo, ao nos aproximarmos de alguém que está em sofrimento emocional e estivermos disponíveis a acessar a empatia, entraremos em contato com esse tom emocional. Cada circunstância e cada pessoa que passa por nós, desperta e nos convida a olhar para sensações específicas.
Perceber o outro é também reconhecer seu mundo afetivo, por isso, quanto maior for o nosso vocabulário emocional e o nosso autoconhecimento, mais facilidade teremos em acolhermos e nos conectarmos com outras pessoas. Reconhecer nossas emoções, potenciais e fragilidades é chave principal para acessar nossa humanidade, e assim, sermos capazes de respeitar a humanidade que existe no outro.
E pra você, como é praticar empatia?