A empatia como transformador social nos ambientes escolares

Quem escolheu trabalhar com a educação sente na pele os inúmeros desafios vivenciados dentro da escola todos os dias. Cada escola é uma microamostra social de tudo o que acontece fora dela. É um reflexo da potência e da miséria da experiência humana. Assim como em outras instituições, as emoções e as relações são vividas intensamente dentro do contexto educacional. Dentro da instituição escolar, vivenciamos todos os conteúdos sociais brotando e transitando nos corredores e nas salas de aula. Os estudantes, educadores, gestores, funcionários e familiares trazem para a escola suas narrativas de vida, e dentro dela, recriam outras. Com isso, muitas coisas incríveis acontecem todos os dias, mas não podemos negar que muita dor também se faz presente.

Quando paramos para pesquisar os principais desafios das relações humanas no ambiente escolar, sentimos um misto de surpresa com tristeza. Algumas pesquisas publicadas sobre o tema sustentam em números o que vocês já conhecem na prática. Vamos olhar para alguns desafios vivenciados atualmente dentro das escolas?

O primeiro desafio mapeado é a violência sofrida diariamente por professores dentro da escola. Os números de violência contra professores no Brasil são assustadores. Um estudo feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Economico (OCDE) sobre violência em escolas em 2012, realizada com mais de 100 mil professoras e professores, de 34 países, o Brasil liderava o ranking de agressões contra docentes. Um outro estudo mais recente feito pelo Sindicato dos Professores de São Paulo aponta que mais da metade dos docentes da rede estadual de ensino já sofreu algum tipo de agressão, totalizando 54% dos entrevistados. Entre as violências, foram citadas: agressão verbal, seguida por discriminação, bullying, furto ou roubo, e agressão física. E o mais triste é que os números mostram uma tendência de crescimento nesses casos. Em 2014, por exemplo, 44% dos professores disseram ter sofrido algum tipo de violência dentro das dependências da escola, e em 2017, esse número cresceu para 51%.

Um segundo ponto desafiador é que os professores estão adoecendo emocionalmente. Sobre o adoecimento das relações dentro das escolas, uma matéria da Brasil de Fato de 2019 aponta que, por dia, 111 professores da rede estadual de São Paulo foram afastados por transtornos mentais ou comportamentais. Entre janeiro e agosto de 2019, foram registradas 27 mil licenças médicas justamente por esses motivos. O adoecimento emocional é multifatorial, mas algumas condições de trabalho e de vida podem ser fatores de risco importantes. Alguns dos fatores correlacionados citados na entrevista foram violência na escola, barulho excessivo, insalubridade, falta de estrutura e valorização e perda de sentido no trabalho de lecionar.

Uma terceira realidade desafiadora é que a escola é muitas vezes palco de violência entre os estudantes. Talvez vocês tenham vivenciado e testemunhado situações preocupantes ao observar a maneira como os estudantes da sua escola se relacionam entre si. Para ilustrar o tamanho do problema, vamos trazer duas pesquisas que trazem números bem claros sobre essa realidade. A primeira é um estudo de 2016, feito no Rio de Janeiro chamado de Diagnóstico Participativo das Violências nas Escolas, feito pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais em parceria com o Ministério da Educação. Nele, quase 70% dos jovens afirmam terem visto algum tipo de agressão dentro da escola. Em 65% dos casos, a violência parte dos próprios alunos; 15%, dos professores; 10%, de pessoas de fora da escola; 6%, de funcionários; e, 3%, de diretores. E o outro estudo, mais recente e desta vez de São Paulo, saiu em 2019 e foi feito pelo Instituto Locomotiva e pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo. Desta vez os números foram ainda maiores. 81% dos estudantes e 90% dos professores souberam de casos de violência em suas escolas estaduais naquele ano. Ocorrências mais frequentes de violência nas escolas estaduais envolveram bullying, agressão verbal, agressão física e vandalismo.

Infelizmente estamos vivendo um aumento significativo nos dados relacionados à violência dentro da escola, incluindo o bullying, o cyberbullying, agressão física, verbal e vandalismo. Muitas pesquisas correlacionam ambientes escolares violentos com baixo rendimento e aproveitamento escolar, sem contar a diminuição da qualidade de vida dos profissionais que atuam na escola.

O quarto desafio que trazemos é a Pandemia da COVID-19 que causou impactos inéditos na Educação no Brasil e no mundo. Ainda vai demorar alguns anos para realmente compreendermos as consequências de todos os meses em que crianças e adolescentes ficaram sem frequentar a escola. Em julho de 2021, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira divulgou uma pesquisa com alguns dados impressionantes. Entre eles o de que no Brasil, considerando escolas públicas e privadas, a média foi de 279 dias de suspensão de atividades presenciais durante o ano letivo de 2020. Cinco milhões e meio de estudantes no Brasil não tiveram acesso ou tiveram acesso limitado às atividades escolares devido a falta de internet ou de aparelhos eletrônicos. Em uma outra pesquisa, esta realizada pela Faculdade Getúlio Vargas, encomendada pela Fundação Lemann, até o final de 2020, os problemas na educação causados pela pandemia já representavam um retrocesso de quatro anos, além de um aumento devastador na desigualdade social, já que estudantes com maior vulnerabilidade socioeconômica são os que mais sofreram com a interrupção das aulas. A Unicef ainda apontou outros graves problemas associados à pandemia em relação à infância, como: aumento da pobreza infantil, aumento assustador no número de casamentos infantis, diminuição da qualidade na saúde mental, aumento de crianças com baixo peso e/ou desnutrição, entre outros problemas graves.

Mas o que isso tudo tem a ver com empatia? Porque estamos trazendo todos esses dados para o centro da conversa?

Nossa intenção não é criar um clima de desesperança. Pelo contrário, é nos munir de informação para inspirar diálogos sobre as dores do cenário atual e principalmente pensarmos juntas em algumas formas de mitigar esses desafios. Sabemos que são problemas grandes e estruturais, mas tivemos a oportunidade de acompanhar, ao longo dos últimos 6 anos, centenas de profissionais da educação usarem ferramentas incríveis de humanização na busca pela transformação dos ambientes escolares. Sabemos que é possível e será um grande prazer compartilhar algumas dessas ferramentas com você, em especial, uma que mora no coração de Carlotas: a empatia. Sozinha, ela não é a solução dos problemas, mas é parte fundamental para criarmos espaços mais justos, inclusivos e seguros.

Já imaginou se a mudança de postura e a maneira como encaramos as relações puder transformar a vida de quem circula no ambiente escolar? É por isso que lançamos um curso à distância para apoiar o desenvolvimento pessoal e profissional dos(as) educadores(as) que atuam e se relacionam diariamente com esses desafios. Se você faz parte de uma instituição educacional pública ou privada e tem interesse neste conteúdo, entre em contato com o nosso time de educação através do e-mail gabriela.t@carlotas.com.br. A mudança acontece a muitas mãos!

*Imagem da capa: Element5 Digital via Unsplash.

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