Dá pra ver os olhos da Catarina do oooutro lado da rua. Olhos verdes, grandes, brilhantes, recheados de uma animação sem fim. Olhos de Miss Brasil.
Todo dia o par de olhos se abre, bem cedinho, olham o despertador, o céu ainda escuro, o café da manhã, o uniforme do filho, a porta de casa, a porta da escola, o filho não querendo entrar pela porta da escola…
Volta para a porta de casa, olha as chaves da motoneta, o crachá com foto, olha a parte de dentro de um capacete.
Vruuuum.
Sem quase respirar, lá vão os olhos de Catarina ao trabalho.
Olham planilhas, contratos, prazos, debentures e commodities.
No meio de tanta palavra de gente adulta, os olhos de Catarina se apaixonam mesmo é pelas palavras-criança que cruzam seu dia. Sor-ve-te. Tru–fa de lei-te ni-nho. Pa-lha-ço.
Vruuum.
Avenida, trânsito, porta de casa, porta da escola, filho saltitante, porta de casa, jantar.
Os olhos já não se aguentam abertos, mas ainda dá tempo de olharem um livro de historinhas, ao lado da cama do filho.
Caraca, ser Catarina não é para qualquer um. Só para ela mesmo.