De todas as histórias que marcaram a Eurocopa 2024 na Alemanha, quero destacar a do torcedor escocês Craig Ferguson, que andou mais do que todos os jogadores juntos correram em campo por uma causa urgente.
De Hampden (Escócia) a Munique (Alemanha), o jovem de 20 anos caminhou mais de 1.600 km em 41 dias com o objetivo de chamar atenção para um tema ainda pouco discutido e cheio de tabus: a saúde mental dos homens. “Fala-se muito pouco sobre isso”, afirma Craig.
Na Escócia, o suicídio é uma das principais causas de morte entre homens abaixo de 50 anos. Fatores como a pressão social para atender a certos papéis e comportamentos, o isolamento social e a falta de estruturas adequadas de apoio à saúde mental masculina contribuem para a alarmante taxa de 23,7 suicídios por 100.000 habitantes, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Em comparação, a taxa para mulheres na mesma faixa etária é muito menor, cerca de 7,2 por 100.000. No Brasil, os dados do Ministério da Saúde e do Atlas da Violência 2022 indicam uma taxa de suicídio de aproximadamente 12,6 por 100.000 habitantes entre homens abaixo dos 50 anos. Embora essa taxa seja menor do que a da Escócia, ainda é preocupante quando comparada à taxa de 2,6 para mulheres na mesma faixa etária.
“O evento da Eurocopa é uma boa plataforma para mostrar que medo e ansiedade fazem parte do mundo masculino e que o suicídio não pode ser a única solução para sentimentos desconfortáveis dos homens.”
Este problema de saúde pública na Escócia revela que, do ponto de vista da saúde mental, os homens frequentemente enfrentam uma forma de discriminação estrutural conhecida como “sexismo”. Isso se manifesta de várias maneiras: culturalmente, perpetua-se a ideia de uma força masculina infalível; individualmente, há uma falta de suporte entre amigos e familiares que muitas vezes não estão bem informados sobre questões de saúde mental; e, institucionalmente, há uma escassez de programas de prevenção e assistência específicos para homens. Esse conjunto de fatores contribui para uma situação em que os homens são desproporcionalmente afetados por problemas de saúde mental, muitas vezes sem o suporte necessário para enfrentar essas dificuldades.
Em sua passagem por seis países, o torcedor conseguiu arrecadar mais de 77 mil libras em doações para a organização “Brothers in Arm Schottland” que acolhe e ajuda homens no fortalecimento de sua saúde mental.
A jornada de Craig Ferguson na Eurocopa 2024 destaca a necessidade de uma mudança estrutural urgente para que se criem medidas concretas e sustentáveis de promoção à saúde mental masculina.
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