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Empatia e autocompaixão

Confesso que é desafiador falar de empatia, no mês da Empatia, no Jornal Carlotas, já que Carlotas é referência tão relevante no assunto, tanto no aspecto conceitual e principalmente no campo da prática, com as ações nas empresas e escolas.

Porém, aceitei esse desafio no qual eu mesma me impliquei, me sentindo inspirada a falar do assunto em uma perspectiva um pouco diferente: partindo da busca pela compreensão da empatia para conosco que vou chamar aqui de autocompaixão, já que é algo que tenho buscado neste momento da minha vida.

Neste momento então faço um convite: pare um pouco. Feche os olhos e tome três respirações profundas. Conecte-se com sua respiração.

Sopro da vida. Sua respiração representa também a energia vital que entra e sai pelas suas narinas. Ela é o motor da sua vida e o auxilia para a conexão com seu mundo interno. Esse simples exercício já pode nos mostrar que estamos demasiadamente acelerados e voltados para o mundo externo, e por vezes um tanto desalinhados com nosso interior.

Preethaji, umas das fundadoras do “Ekam – O Campo da Unidade”, espaço místico na Índia criado com o propósito de auxiliar na expansão de consciências, diz que um dos aspectos da conexão é a compaixão, compreendida, em suas palavras, “pela consciência da unidade da experiência humana”. Os mestres indianos do Ekam afirmam que vivemos em um estado de separação, e esse estado nos limita a estabelecer um processo de conexão (conosco mesmo e com o meio externo) ou um estado expandido de consciência.

O Candomblé, referência religiosa e mística da tradição afro-brasileira, também nos inspira a compreender esse estado de unidade. Pai Vitinho de Odé, sacerdote do Ilê Asé Tobi Odé Kolê, reconhecido terreiro de Candomblé de Uberaba-MG, nos lembra que segundo essa tradição, somos um com a natureza: os Orixás representam aspectos do ser humano e os elementos da natureza que estão dentro de nós. Tudo é vida, tudo está vivo. Então, em sintonia com essa tradição, podemos dizer que entrar em conexão e estabelecer empatia conosco é compreender que somos manifestação da própria vida e que somos um com todos os seres.

O sentimento de unidade e expansão da consciência nos leva a um estado de amor, de compaixão interior e consequentemente em um estado de empatia para com todos os seres vivos. Mas precisamos partir de “dentro”, certo?

“Conhece-te a ti mesmo”, frase escrita à frente ao santuário de Delfos – Oráculo de Delfos, na Antiga Grécia (séc.IV a.C) – fazendo essencialmente parte da filosofia de Sócrates, também nos mostra que a preocupação em torno do conhecimento do ser humano em relação a ele próprio, já vêm de longa data. Para este filósofo, apenas a partir da compreensão de que nada sabemos – e então de que devemos nos observar, questionar – é que podemos conhecer o mundo ou a nós mesmos.

Vamos então a um antigo método de investigação, a auto investigação: de que forma olhamos para nós? Com cobranças, julgamentos, críticas? Ou com amor, compaixão, compreensão, tolerância, respeito? Vivemos em uma guerra e conflitos interiores ou em um campo de paz e liberdade? Ora, não são esses mesmos conceitos básicos que formam aquilo que entendemos por empatia? A forma como nos relacionamos conosco não é fundamental para conseguirmos também ser empáticos com as pessoas ao nosso redor?

Conexão com nosso estado interior, sem julgamentos ou críticas, é uma chave muito importante para estabelecermos compaixão e empatia conosco. Acolhendo sentimentos, ouvindo o que nosso coração tem a dizer, reconhecendo tudo o que nós somos, estar presente no momento presente. O presente que é a própria vida. Senão acabaremos por travar uma velha e conhecida guerra: a guerra contra nós mesmos. Vamos então pacificar a relação conosco mesmo?

Para finalizar, deixo aqui a proposta de colocarmos em prática essa vivência de conexão, compaixão e empatia. Existem muitas maneiras de vivenciarmos isso, deixadas por muitas tradições filosóficas, místicas e espirituais. Escolha a sua. Medite sobre o assunto. Olhe para si, cuide-se. Meditar é uma prática milenar que nos auxilia muito a estabelecer essa conexão conosco de forma empática. Deixo o convite!

*Ilustração da capa: Laura Lhuillier

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