Normalmente, não me pronuncio sobre assuntos polêmicos para não correr o risco de perder algum detalhe e ser injusta com alguma das partes. No entanto, estava ouvindo a Gabi Garcia, fundadora do Think Twice, sobre o papel político da empatia e percebi o quanto me omito. Ainda que viva pregando que “não fazer o mal, não é fazer o bem” acabo, com essa postura, me escondendo numa ignorância intencional.
Não temos voz, ou melhor, não tenho voz em muitas causas as quais defendo, mas tenho a obrigação de olhar a minha responsabilidade no caos instalado, o qual faço parte de uma massa de manutenção.
Trabalhar com diversidade e inclusão ao longo desses anos, me fez aprender muito e perceber o quanto somos pequenos diante da beleza de possibilidades do mundo. Trouxe também, novas referências, novos pontos de vista, conhecer experiências que eu dificilmente imaginaria existir. Mas, realmente, não fazer o mal, não é fazer o bem e, aqui, estou me questionando qual é meu papel diante de tudo isso.
Aprendi com a Gabi que ser empático com as causas de pessoas minorizadas não é romantizá-las e, muito menos, despolitizá-las. Ser empático é entender meu papel de atuação para ajudar a causa e ser útil no espaço que estou e com meu lugar de fala.
Dicionário
Empatia: Substantivo feminino.
1 – Faculdade de compreender emocionalmente um objeto (um quadro, p.ex.).
2 – Capacidade de projetar a personalidade de alguém num objeto, de forma que este pareça como que impregnado dela.
Significados
Empatia significa a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo.
“É a arte de se colocar no lugar do outro por meio da imaginação, compreendendo seus sentimentos e perspectivas e usando a compreensão para guiar as próprias ações.”
Roman Krznaric ( historiador da cultura e membro docente fundador da The School of Life de Londres).
“Empatia é o sentir com as pessoas, é uma escolha vulnerável porque requer que uma pessoa toque em algo pessoal que a faça se identificar com a luta de outra pessoa e, então, crie uma conexão.”
Brené Brown ( PHD Serviço Social e professora e pesquisadora na Universidade de Houston).
“Empatia pressupõe a tomada de perspectiva de outra pessoa e a atribuição de um estado mental à mesma.”
Simon Baron Cohen (psicólogo e professor da Universidade de Cambridge).
“Empatia é “perceber o que outras pessoas sentem sem que elas o digam.”
Daniel Goleman (psicólogo e jornalista científico).
A empatia é simplificada a essa troca de sapatos que não leva em conta tamanho e formato de pé, um exercício reducionista de pretender olhar o mundo do outro com nossos olhos. Esse exercício horário, que é cuidar das relações e criar ponte entre os corações, é desafiador porque exige um olhar para si mesmo entendendo nosso tamanho e lugar nessa relação. Eu percebo, entendo e sinto como o outro e, então, ajo como ele ou a situação pede naquele momento, não como eu acho que devo atuar. Empatia é, portanto mais que a capacidade imaginativa de se projetar no outro mas uma ação na qual eu sou um agente de contribuição real.
Não acho que nenhuma das definições de empatia faz juz a complexidade da sua prática tão pouco acredito que possamos ser empáticos 100% do tempo. Para mim, é a melhor ferramenta que temos para convivermos, uma escolha que fazemos de nos colocarmos nas relações por inteiro entendendo a nossa responsabilidade em construir pontes e diálogos. Sem dúvida, empatia é um ato de coragem.
Leia também o Manifesto pela Empatia de Carlotas.
* Foto da capa por //unsplash.com/@timmossholder -Tim Mossholder.