Eric é uma dessas pessoas difíceis de falar a respeito. Apesar da sua pouca idade, tem um brilho especial. Apesar de calado, suas poucas palavras sempre tocam fundo. Está sempre disposto a ajudar, mas espera ser chamado.
Na verdade, nunca o conheci pessoalmente, mas sua história mudou minha vida e é raro falar dele sem me emocionar.
Eric entrou no nosso mundo em novembro de 2011. Quando a Carla foi chamada por uma amiga, professora de uma escola pública em Barueri, para visitar seus alunos e falar de arte com eles. No meio daquelas 50 crianças, de 5 e 6 anos, estava o Eric. Cabeça baixa, olhando de lado, bem desconfiado.
Entre as imagens dos desenhos que a Carla levou, as crianças iam fazendo as perguntas que tinham preparado. Afinal, estavam diante de uma artista! Mas, percebendo a estranheza que os desenhos causavam, ela desafia as crianças: “Quem aqui tem o cabelo perfeito? Quem aqui tem os pais perfeitos?” Claro que todos tinham. Sempre temos respostas para tudo. E quem não é perfeito?
Mas logo veio um chacoalhão: “Se eu disser que aqui ninguém tem nem o cabelo nem os pais perfeitos?” Aqueles segundos que ficam eternizados com o rosto em surpresa, olhando ao redor para tentar entender. Como ninguém tem o cabelo nem os pais perfeitos?
Antes que alguém entrasse em pânico, a Carla trouxe o que iria ser a alma de Carlotas: “Não existe UM perfeito porque o que é perfeito para um não é perfeito para o outro.” Afinal, não existe um único padrão que se encaixe para todos. O que parece meio óbvio e fácil de ser dito, não é fácil de ser vivido.
Na hora do intervalo, vendo as crianças brincarem, uma das professoras apontou para um menino que estava brincando com os amigos e disse: “Tá vendo aquele menino? O Eric, ele estava em silêncio há 3 meses, desde que foi levado para um abrigo com os irmãos. Nada do que fazíamos conseguia tocá-lo e fazê-lo voltar a falar. E olha ele agora!”
Eric nos trouxe para Carlotas sem saber. Foi naquele momento que a Carla percebeu o quanto associamos felicidade com perfeição, um conceito muito abstrato e inatingível. O Eric, por não se achar perfeito, não se deixava ser completo e se calou.
Nosso Eric pode ser um pouco diferente desse menino tão real quanto suas angústias. Mas, seguramente, passar pelo portal do mundo de Carlotas foi libertador para ambos. E para nós, uma missão. Ou melhor, um presente:
De poder levar essa conversa para tantas outras crianças e jovens sufocados por um conceito que não é realista, muito menos real”
Esse é o Eric, ainda tímido, preocupado em ser aceito, mas muito mais confiante que pode se conectar com qualquer um através nosso ponto de encontro: nossas imperfeições.