Quem é professor de arte já deve ter se deparado, em algum momento de suas aulas com estereótipos feito pelos seus alunos. O mais comum são os desenhos, trabalhados com certa frequência nas aulas de arte, que trazem esses elementos com pouca ou nenhuma expressividade. Em um primeiro momento esse tipo de desenho agrada e seduz o olhar desatento do expectador, mas com um olhar preparado, revela o quão esse tipo de desenho agride, revelando toda a sua negatividade, contrapondo com o pensamento liberto do ensino da arte contextualizada e significativa. Como perceber e distanciar o estereótipo da arte na escola, sem agredir o aluno, aparentemente inocente.
Afinal, como se define um estereótipo?
Segundo o dicionário Aurélio, a palavra estereótipo significa forma de impressão que os caracteres estão fixos e estáveis, caracterizando também um comportamento desprovido de originalidade e de adequação à situação presente, como uma repetição automática de um modelo anterior, anônimo ou impessoal.
Os desenhos que apresentam elementos estereotipados seguem um mesmo padrão que se repete muitas e muitas vezes. O aluno que faz desenhos com essas características armazenou esses modelos de alguma maneira no seu cotidiano, seja ele familiar, social ou escolar. Muitas dessas informações são adquiridas inconscientemente. A valorização exagerada e inconsequente desses modelos pode influenciar na proliferação quase que viral dessa prática.
O olhar atento do professor
Nossa história se passa na aula de Arte, onde Estereótipo é o vilão que vive aterrorizando os alunos. O professor entra na história como protagonista, que percebe através de seu olhar observador e atento as intenções do vilão. Através de sua experiência e domínio artístico, elabora um plano de ação, para salvar seus alunos. Todo o percurso é regrado de incertezas, dúvidas e questionamentos, porém o nosso protagonista consegue guiar sabiamente seus alunos, evitando o contato direto com o aterrorizante Estereótipo. Só que essa aventura nunca tem fim, toda aula de arte essa história se inicia, é uma luta constante. Mas através de muitas travessias, os alunos se sensibilizam e despertam um novo olhar. Começam de repente, por si só, a desviar das armadilhas criadas pelo seu algoz que por fim torna-se fraco e praticamente insignificante.
Em sala de aula, cabe ao professor com o seu conhecimento, indicar percursos, que inibam os “clichês” na sua prática, refletindo com isso na prática de seus alunos. Para isso, a sua formação é essencial. O professor através de suas vivências, experimentações e domínio da arte, cria um olhar diferenciado, que possibilita escolhas totalmente contextualizadas, com diversidade de modelos, materiais e linguagens. Com esse tipo de encaminhamento, o aluno percebe claramente o que fazer, como fazer e por que fazer, tornando o aprendizado significativo longe de estereótipos. Mas nem sempre isso é o que acontece.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), existe um desencontro entre a teoria que exige muitos questionamentos e o entendimento do professor, mostrando a fragilidade de sua formação acadêmica, com poucos livros editados de qualidade sobre o assunto, sem falar nas definições errôneas do passado, onde as atividades artísticas na escola tinham uma função superficial de enfeitar o ambiente escolar ou atuavam somente em datas comemorativas e festivas. Ainda hoje essa visão simplória da arte como disciplina sem autonomia e independência, o que infelizmente ainda vigora em muitas escolas brasileiras.
“Em muitas escolas ainda se utiliza, por exemplo, o desenho mimeografado com formas estereotipadas, para as crianças colorirem, ou se apresentam “musiquinhas”, indicando ações para a rotina escolar (hora do lanche, hora da saída). Em outras, trabalha-se apenas com a auto expressão; ou, ainda os professores estão ávidos por ensinar história da arte e levar os alunos a museus, teatros, e apresentações musicais ou de dança. Há outras tantas possibilidades, em que o professor polivalente inventa maneiras originais de trabalhar, munido apenas de sua própria iniciativa e pesquisa autodidata.” (BRASIL, 1997, pag. 26).
Avaliar a sua prática é um primeiro passo para que o professor atente e desenvolva sempre novas propostas de trabalhos que influenciem conscientemente os alunos instigando-os naturalmente para a observação, a interpretação e a inventividade.
Arte na escola sem estereótipos
Com a prática contextualizada e significativa nas aulas de Arte estimulando criações originais dos alunos, naturalmente os estereótipos se afastam ou se enfraquecem. Conteúdos e práticas inovadoras inibem naturalmente o seu surgimento indesejável nas aulas e cabe ao professor promover essas ações. Eu faço a minha parte para fugir dos estereótipos na escola, e você?
Referências: BRASIL, Ministério da Educação, Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1997.
Imagem: Produção da aluna V. que fez parte da ação nomeada “As Ruas da Cidade”, desenvolvida nas aulas de Arte em 2013. Esse projeto promoveu entre os alunos a reflexão da convivência positiva de pessoas e seus meios de transporte e ainda estimulou a associação poética da cidade com o corpo humano. A obra homônima de José Leonilson Bezerra Dias, inspirou e expirou momentos inesquecíveis. Assista o vídeo da ação aqui.