Que tal começar dezembro com encontro de pessoas queridas na exposição” Histórias Indígenas” no Masp?
Foi assim que Carlotas deu início ao último mês do ano: celebrando a diversidade e a visibilidade presente na curadoria e obras de artistas indígenas ou de ascendência indígena da Oceania, Escandinávia e também da nossa Abya Yala.
Acredito que muitas pessoas nunca ouviram a expressão “Abya Yala”, mas é como nós chamamos a América. Na língua do povo Kuna, Abya Yala significa Terra madura e, além de ser usado como contraponto ao nome colonial do continente, também é uma forma de construir um sentimento de unidade e pertencimento de quem sempre habitou essas terras.
Desde a invasão, escutamos e estudamos as histórias dos povos originários por meio de pessoas não indígenas. Agora chegou a nossa vez de narrar e apresentar as “Histórias indígenas.” O objetivo da exposição é apresentar a riqueza das diferentes perspectivas sobre a arte, identidade e cultura indígena e também refletir sobre a diversificação dessas narrativas culturais que desafiam as histórias eurocentradas e as imagens distorcidas que perpetuam o preconceito sobre o indígena, permitindo que os visitantes questionem o racismo estrutural que ainda se faz muito presente nos dias atuais.
O acervo do museu reúne peças em diferentes épocas — desde antes da invasão européia até o presente. É possível perceber o posicionamento político como forma de expressão no ativismo indígena e nas obras que retratam o pertencimento, a identidade, os desafios ambientais que estão postos no processo de demarcação de territórios e muitas outras histórias plurais que trazem a diversidade originária.
Posto isso, trago reflexões da minha própria experiência quando penso em falar sobre a cultura indígena, deparo-me com a frustração e com os desafios de lidar com as expectativas e estereótipos associados de forma romantizada, simplificada ou primitiva, pautadas em elementos superficiais, limitados ou distorcidos sobre a rica diversidade presente na cultura indígena e, para complementar essa sensação, aproveito para destacar um trecho de reflexão feito pelo querido Jaider Esbell:
“Toda vez que me dizem:
– Eu queria conhecer a cultura indígena.
Minha cabeça roda, roda, roda e eu fico tonto a ponto de cair no chão.
Eu digo:
– E agora, o que eu vou dizer a essa pessoa?
É claro que eles querem saber da tribo, dos ritos, dos chás, das ervas, das curas e dos mistérios.
Querem talvez ver o índio selvagem e puro. Digo sim, eles também existem, mas talvez não consigamos chegar lá a tempo.
Eles querem ver só o lado bonito da história, os belos corpos pintados e a grande festa – felicidade. Não se consideram mais indígenas as pessoas com histórias atuais e próprias.”
Para mudar esse pensamento e aliar-se à luta contra o preconceito sobre os povos indígenas, faço um convite para a compreensão genuína da diversidade da cultura originária. Mas para isso acontecer, faz-se necessário estar aberto, ter disponibilidade para ouvir, despir-se de padrões pré-estabelecidos e permitir-se.
Vocês aceitam esse convite?
O mundo de Carlotas convidou a equipe para fechar 2023 visitando essa exposição tão necessária no MASP. E nós aceitamos o convite!
Por aqui em Carlotas falamos muito sobre diversidade, empatia e respeito. Foi lindo demais reunir a diversidade de cada um para entrar em contato com a grande diversidade cultural indígena.
Visite também o Museu das Culturas Indígenas.