As Empresas que estruturam ações efetivas de Diversidade e Inclusão, buscando a representatividade de nossa sociedade em seus quadros de colaboradores e para além disto, a equidade de oportunidades de crescimento profissional para todas as pessoas, têm encontrado na criação de grupos de afinidade, um aliado importante para o estabelecimento de uma cultura de respeito e valorização do diverso. Os grupos de afinidade podem ser por gênero, raça, LGBTQI+, pessoas com deficiência, entre outros. Estes grupos têm por objetivo gerar o engajamento de colaboradores que se identifiquem por características pessoais ou por serem aliados a determinadas causas que estes grupos representam. Estes grupos se reúnem sistematicamente em fóruns e reuniões para propor ações para engajamento, troca de experiências e fortalecimento das diferentes temáticas de D&I.
E as pessoas autistas, estão representadas nestes grupos? Infelizmente ainda não. Mas temos algumas experiências importantes na valorização da neurodiversidade, como as praticadas por Johnson & Johnson e IBM, que vou compartilhar aqui.
A Johnson & Johnson possui o ADA (Alliance for Diverse Abilities) – grupo de afinidades que atua em três pilares: Pessoas com Deficiência, Saúde Mental e Autismo, e foi criado para garantir que os colaboradores com habilidades diversas pudessem ter acesso às ferramentas necessárias para o seu dia a dia de trabalho, além de se sentirem pertencentes e confortáveis na companhia.
“Na Johnson & Johnson, temos como ponto principal uma cultura de inclusão e equidade. No nosso caso, contribuímos com iniciativas voltadas para talentos com habilidades diversas. A educação na temática das neurodiversidades, a atração e o desenvolvimento de talentos neurodiversos são partes importantes das ações pragmáticas que realizamos para assegurar a conscientização à nossa comunidade. A inclusão de talentos autistas contribui de maneira significativa para o desenvolvimento de todos dentro da companhia. Também são iniciativas-chave do nosso grupo de afinidade a educação e a conscientização sobre o TEA (Transtorno do Espectro Autista) e o acolhimento dos nossos funcionários e cuidadores de autistas. Oferecemos todos os benefícios para as famílias, bem como troca de experiências,” – destaca Carla Silveira, líder do pilar de Autismo do ADA.
Já a IBM criou um grupo de afinidade em neurodiversidade, e em outras áreas de inclusão. Esses grupos são formados por funcionários voluntários que debatem assuntos de interesse, compartilham experiências para ampliar o conhecimento e sugerem ações para promover o respeito e contribuir para um ambiente mais diverso e inclusivo.
Desde 2019, com o apoio da Specialisterne – consultoria especializada na formação e capacitação de pessoas com autismo e inclusão no mercado de trabalho, a IBM tem trabalhado com a inclusão de profissionais autistas dentro das áreas de tecnologia e consultoria.
“Iniciamos o projeto com uma primeira onda de contratação e atualmente estamos indo para a terceira. O programa tem sido muito bem sucedido, e isso nos levou a pensar em uma forma de expandir as discussões sobre o tema para toda a organização. Nesta linha, a criação do grupo de afinidade torna-se chave para este objetivo. A criação do Grupo de Afinidade de Neurodiversidade no Brasil reforça o compromisso de diversidade e inclusão da IBM em promover a igualdade de oportunidades e a criar um ambiente saudável onde todos possam se sentir acolhidos e respeitados. O nosso grupo tem a missão de aumentar a conscientização no tema e prover aos nossos colaboradores neurodivergentes e aliados uma ferramenta de suporte, desenvolvimento e networking.” – esclarece Roberto Santejo, líder do grupo de afinidade de Neurodiversidade da IBM Brasil.
Além disso, reforça que, “à medida que ampliamos o conhecimento sobre o tema, as barreiras são reduzidas, sejam vieses, preconceitos ou processos. Todo esse processo de aprendizado permite que as pessoas ou áreas envolvidas se transformem em um ambiente cada vez mais inclusivo. Como resultado, prepara a organização para ampliar sua demanda por profissionais neurodiversos. Queremos diferenciar inclusão de integração (…) O que buscamos é a inclusão. Nosso ambiente organizacional precisa estar preparado para receber os profissionais independente de suas diferenças.”
Iniciativas como as da Johnson & Johnson e da IBM abordam o tema autismo e neurodiversidade como um pilar essencial a ser considerado pelos programas de Diversidade e Inclusão, trazendo o protagonismo para as pessoas, familiares e aliados.
“Trabalhar na IBM abriu portas que eu nunca pensei que se abririam na minha vida profissional. Hoje, sou um profissional satisfeito e realizado, graças à oportunidade de trabalhar na IBM.”, Rodolpho Molina, colaborador IBM, que ingressou na companhia através do Programa de Neurodiversidade Specialisterne.
“Fui consultor da Specialisterne, trabalhei em algumas empresas e hoje estou na Johnson & Johnson. A companhia mantém um programa de diversidade incrível com o ADA, não só em relação ao autismo, mas em vários outros aspectos, o que me interessou bastante. Essa oportunidade tem sido muito importante para a minha carreira e para a minha vida”. – Felipe Yoshio.
“Transformando o invisível em prol da sociedade. Esse é o meu conceito para parceria Specialisterne e Johnson & Johnson (Projeto Spectrum). De um lado, o credo da Johnson & Johnson nos ensina que ‘devemos desenvolver um ambiente de trabalho inclusivo, onde valorizamos cada pessoa como ela é, sendo considerada como um indivíduo. Devemos respeitar sua diversidade e dignidade e reconhecer seu mérito’, do outro, a Specialisterne oferta formação técnica e sócio laboral para indivíduos no espectro autista. Quem poderia conectar os dois lados? Claro, o Thiago! Desta forma, minhas habilidades e competências tornaram-se visíveis para o mercado de trabalho. Consequentemente, somente aos 30 anos, com primeiro emprego, consigo sonhar com a minha autonomia e independência. Sabe quem se beneficia? A sociedade. Graças à diversidade e inclusão garantimos a equidade, ou seja, a diferença é valorizada!”. – Thiago Menezes.
Estes depoimentos reforçam, de forma clara e objetiva, o quanto os grupos de afinidade colaboram para uma inclusão de qualidade, contribuindo para que as organizações sejam mais inovadoras, com equipes mais produtivas, diversas e engajadas.
Esse artigo foi publicado na Revista Autismo, edição nº 11 – DEZ/JAN/FEV 2021
*Imagem da capa: Leon via Unsplash.