Encontrar referências de mulheres possíveis é uma riqueza imensurável para mim. Me disponho a aprender novas perspectivas sobre os temas que permeiam as nossas vidas e nosso papel no mundo. Conhecer outras mulheres e suas formas de se relacionar, de ser mãe, de ser amiga, de estar em família, de trabalhar, de se expressar e de experimentar o mundo a sua volta, me permite criar repertório para fazer escolhas que conversam com um lugar profundo aqui dentro e a não me limitar por padrões impostos social e culturalmente.
Pude exercitar escolher com mais consciência nos últimos anos e vejo como essa postura contribui para que me sinta mais confiante e viva plenamente. Divido o que aprendi em oficinas que unem criatividade e arte para incentivar o desenvolvimento pessoal e a expressão autêntica de mulheres, porque acredito que anos de silenciamento e repressão precisam dar lugar a milhares de explosões criativas de todos os tamanhos e formas pelo mundo todo.
Esse trabalho enche meu coração de alegria e é fruto de minhas experiências pessoais que foram enriquecidas por muitas mulheres encontradas pelo caminho. Elas estão por toda parte: em páginas de livros, filmes, músicas, séries, teatros, dança, entrevistas, pinturas, esculturas, fotografias, na frutaria, nos cursos, na escola, na universidade, dentro de mim. Presencialmente e/ou virtualmente, as referências de mulheres nos encontram e transformam.
Uma das maneiras mais potentes de alimentar nosso repertório é através de histórias.
Antes, as narrativas que chegavam até as meninas eram, massivamente, de princesas indefesas esperando serem salvas pelo príncipe encantado e elas foram fortemente disseminadas pelos desenhos infantis e grandes produções cinematográficas.
Felizmente, isso vem mudando e, hoje, temos preciosidades como o podcast “Histórias de Ninar Para Garotas Rebeldes”, disponível gratuitamente em diversas plataformas como Spotify e SoundCloud.
O podcast é baseado no livro de mesmo nome, onde Elena Favilli e Francesca Cavallo contam 200 histórias de mulheres que mudaram o mundo, divididos em dois volumes. De Frida Kahlo à Beyoncé, passando por ativistas, advogadas, cientistas e até piratas, o intuito do livro é trazer esperança e desfazer a ideia de que o gênero define o quão alto se pode sonhar: “que os retratos delas imprimam em nossas filhas e filhos a profunda convicção de que a beleza se manifesta em todas as formas, cores e idades.”
Os episódios são narrados por diferentes mulheres e tem em média 20 minutos de duração. O último que ouvi foi sobre Ruth Bader Ginsburg, ela foi uma importante juíza norte americana e fiquei profundamente inspirada por sua história. Pelas minhas pesquisas, a juíza já foi retratada em On the Basis of Sex (Suprema em português, 2018, disponível na Prime Vídeo) e teve a vida contada em dois documentários: RGB (A Juíza em português, 2018, disponível no Telecine Play) e Ruth: Justice Ginsburg in Her Own Words (2019). Ela morreu em setembro de 2020.
Além das histórias do livro, o podcast traz entrevistas com as mulheres que narraram os episódios. No caso citado acima, a narradora foi Gabriela Manssur, uma promotora de Justiça “que dedica sua vida a construir um mundo mais justo para todas e todos.” Além disso, encontrei um diário, de autoria de Elena Favilli e Francesca Cavallo com tradução de Carla Bitelli, chamado “Eu sou uma Garota Rebelde: Um Diário para iniciar Revoluções” e o livro “50 brasileiras incríveis para conhecer antes de crescer” de Débora Thomé.
Convido todos a ouvirem o podcast e lerem os livros, independentemente do gênero. Acredito ser importante que homens e meninos conheçam histórias de mulheres que mudaram o mundo, reconheçam nosso valor e aprendam a nos respeitar de igual para igual. As narrativas contidas no livro e no podcast são essenciais para a formação de nossas crianças e torço ardentemente para que se espalhem pelo mundo “inspirando milhões de garotas a sonhar grande, mirar distante e lutar com bravura.”