João, como bom guardador do tempo, tinha como sua maior preocupação manter os relógios todos em perfeito alinhamento num tic-tac sincronizado. Era o caos quando um relógio atrasava, o que raramente acontecia.
A vida do João parecia o tic-tac dos relógios, absolutamente regrada e previsível. – Ah! Assim que eu gosto! – pensava o homem que jamais se atrasava.
Até que um dia, ao abrir a relojoaria… Que horror! Cada relógio marcava um horário. João quase morreu de susto. Junto aos relógios, uma pessoinha bem pequena, falando sem parar algo que ele mal conseguia entender no estado de choque que estava.
– Olha, é muito tic-tac pra todo lado. Eu não aguento assim! – disparava a pequena criatura.
– O que você fez com meus relógios? – estava bem alterado o pobre do João.
– Ué! Eu só coloquei um pouco de ordem aqui. Pra que tanto relógio tic-taqueando ao mesmo tempo? Dá um sono danado. E depois, um só relógio já marca a hora, ninguém precisa de mais.
Meu avô já dizia: – Minha filha, um homem com um relógio sabe que horas são. Com dois, já não tem tanta certeza!
João não sabia o que fazer, se colocava aquela criatura pra fora ou arrumava os relógios. Resolveu sentar.
– Oi, eu sou a Biba. O senhor me desculpe… Eu adoro relógios, vivo pulando de um para o outro mas é que eu não aguento tanto tic-tac assim… me dá muito sono.
E ela continuava: – Sabe que o senhor poderia tirar um pouco de relógio da parede. Tá muito cheio, as pessoas não conseguem nem se decidir o que levar.
Enquanto ela matraqueava sem parar, João foi percebendo que já não tinha mais tanta certeza se era dono do tempo como achava. Só naquela conversa tinha perdido as primeiras horas do dia. Entrou na loja cheio de certezas e agora não sabia nem mais que horas eram…
