Início de julho é sempre uma grande correria. Percebemos que no chão da escola são necessárias muitas providências para o encerramento do semestre. A sensação mais comum é de exaustão coletiva, para conseguirmos dar conta de cada um dos detalhes, para que todos e todas consigam ter esse espaço para descansar.
Enfim recesso, aquele espaço onde acreditamos que conseguiremos descansar para dar conta do que está por vir. Queremos sair correndo para essa pausa tão necessária, e porque será? Será que estamos conseguindo manter de verdade os espaços e tempos de cuidado no decorrer do percurso anual? Ou estamos chegando nos tempos de pausa com afobamento, cheias de coisas para resolver?
O que temos percebido é que se não cuidarmos muito bem dessa priorização do tempo, corremos o risco de transferir o trabalho do chão da escola para o chão de nossas casas, invadindo nossos momentos de cuidado com os filhos e filhas (quem os têm), nosso momento de descanso, nosso momento de recarga.
Aqui em Carlotas, percebemos que a cada encontro que fizemos nas escolas há uma grande alegria em esperar pelo recesso, como se essa pausa profissional fosse acolher e curar todas as demandas que já vivemos e iremos viver. No entanto, sabemos que as vivências da escola e na escola são permeadas por emoções (boas ou não tão boas) que se acumulam, formando uma camada densa que atravessa as nossas relações. Muitas vezes, deixamos de falar sobre chateações e frustrações que tivemos, assim carregamos esse fardo e não acolhemos nossas necessidades. Dessa forma, a pausa, que seria para o descanso, pode se tornar de ansiedade e irritabilidade, pois deixamos algo por resolver.
Os encontros presenciais do mês de julho deram continuidade nas conversas sobre o nosso eixo central deste ano no Programa ExploreCarlotas: a empatia na educação. A cada reencontro, tivemos a chance de revisitar o tema de maneira um pouco mais profunda. Cada vez mais educadores(as) estão acompanhando nosso curso online, e com isso, estamos ampliando a rede de pessoas engajadas na temática. É muito potente perceber o crescimento e as transformações de cada instituição. Aquelas que estão chegando ainda estão descobrindo como os temas das emoções e da empatia se fazem presentes na prática pedagógica, e no dia a dia. Enquanto as escolas que estão há mais tempo no projeto estão mergulhando cada vez mais fundo. Cada escola como um organismo vivo, se desenvolvendo no seu tempo. Nos alegra muito saber que elas nos escolhem para fazer essa travessia em nossa companhia.
Apesar de ter sido um mês “mais curtinho”, realizamos 21 oficinas presenciais com educadores(as) – professores(as), funcionário(as) e estudantes – nas escolas parceiras. Tivemos a chance de revisitar as atitudes empáticas e compartilhar estratégias para enfrentar os principais desafios vivenciados no final deste primeiro semestre do ano.
Na segunda quinzena deste mês a escola silencia, mas nossas emoções e sentimentos seguem borbulhando em cada situação que vivemos. Como trouxe a Gabi Treteski no bate-papo de Carlotas (para assistir e ouvir clique aqui), nossas emoções são disparadores corporais do nosso organismo para reagir diante de situações no mundo. Todas as emoções que sentimos surgem com um caráter genuíno de cuidar de nós e preservar o equilíbrio. Elas são um belo radar que nos orienta sobre o que nos cerca e sobre as decisões a serem tomadas. Quanto maior a nossa consciência sobre nossas emoções, mais capazes seremos de nos acolher de maneira saudável e integral.
É justamente nessa ampliação de consciência a partir das competências socioemocionais que seguiremos trabalhando no próximo semestre. Seguimos por aqui pensando em possibilidades para acolhermos os estudantes com encontros sobre as diversidades; pensando e construindo práticas para acolher o corpo docente no terceiro encontro do percurso do EAD sobre empatia na educação com atividades práticas; acolhendo funcionários/as das instituições para que eles e elas se sintam pertencentes no caminho do educar no chão da escola. As unidades escolares seguem em recesso e esse descanso se faz necessário para quem ensina e quem aprende, mas nós aqui em Carlotas seguimos produzindo e criando a partir de cada partilha, escuta e trocas a cada encontro que fizemos.
E esperamos que nesse retorno possamos seguir juntas e juntos, construindo possibilidades para fortalecer e acolher nossa saúde emocional, cognitiva e física.
Para não perder o costume, ficam algumas reflexões para esse momento:
A pausa profissional possibilitou espaço para você se acolher e se cuidar? O tempo do recesso foi suficiente para conseguir descansar? Como você tem praticado os pequenos gestos de gentileza e generosidade consigo mesmo(a)?
Afinal, só podemos ofertar o que temos em nós. Se cuidem e bom retorno!