Lana – Uma amiga inesperada

Lá vamos nós para mais um retorno à escola. Banheiro, café, mãe já na porta de casa com as mochilas prontas contando os minutos para não perdermos a hora. O primeiro dia é sempre emocionante. Qual será a minha turma? Será que permanecemos juntas? Que saudades do recreio!!!

Chego no pátio e percebo que minha professora está conversando com meus colegas de sala. Foi dessa forma que conheci minha melhor amiga, Lana. No início foi bem estranho nosso relacionamento. Lana era bem diferente de mim. Até aí, tudo bem. Somos diferentes e isso é o que importa. Porém, a professora nos contou que ela era autista e que precisava de alguns pontos de atenção.

Aos poucos fui me aproximando dela. Lana era muito inteligente! Mandava muito bem na matemática! Comecei a perceber que ela não me olhava nos olhos quando conversava comigo. No início, fiquei incomodada. Depois entendi que não olhar nos olhos não quer dizer falta de interesse. Era uma caraterística dela.

Algumas vezes no ano, mudamos de lugar e sei que para Lana é perturbador. No dia da mudança, a turma toda conversava com ela e tentávamos fazer isso da forma mais tranquila possível, sem muita gritaria. Se a professora percebesse que ela estava muito agitada, Lana ficava um pouco no parque. Ela gostava muito de olhar para o jardim que tem na escola e dessa forma ela se acalmava também.

Na educação física tínhamos algumas atividades que precisávamos segurar na mão do colega. Percebíamos que Lana não gostava de ser tocada. Adaptamos nossos jogos para que isso não acontecesse. Muitas vezes ela ficava como observadora e ria das trapalhadas da turma.

Sabe o que mais me encantava na Lana? A forma como alguns comportamentos pareciam demonstrar afeto. Ela sabia que eu tinha dificuldade na matemática e toda vez que tinha tabuada, ela ficava próxima, olhava para meu caderno e algumas vezes dizia: Está errado! Então ela pegava sua borracha e me emprestava para apagar. Ela não costumava usar muitas palavras para se expressar, mas emprestar sua borracha era uma forma de demonstrar carinho.

O tempo passou, crescemos e cada uma seguiu seu caminho. Lana tinha um jeito bem diferente de ver o mundo. Minha professora dizia que ela funcionava de outra forma. Hoje, já adulta, fui morar no sul de Minas e ganhei outro amigo que tem características muito parecidas com a Lana. Ele está me mostrando um outro jeito de ver as coisas e me lembrou muito tudo o que aprendi com minha antiga e querida amiga.

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